Várias definições foram dadas sobre o amor, mas não vi ninguém que o tenha definido com sua definição essencial; de fato, tal coisa não é concebível. Todos aqueles que o definiram o fizeram pelas consequências que ele gera, por seus efeitos e efeitos posteriores. E essa impossibilidade de defini-la essencialmente deve-se, acima de tudo, ao fato de que ela é um dos atributos da exaltada majestade divina.
Lembre-se de que, entre as coisas cognoscíveis, algumas são definíveis e outras não. E o amor, na opinião daqueles que o conhecem e discutem, é uma das coisas que não podem ser definidas; ele é conhecido por aquele em quem reside, por aquele que o possui como seu próprio atributo; mas ele não sabe o que é, embora a realidade de sua existência seja inegável para ele.
Também é preciso ter em mente que, para poder dizer verdadeiramente que o amor é um atributo de uma pessoa, é necessário que ele a domine a ponto de privá-la de ouvir qualquer som que não seja o das palavras de seu amado, que a cegue para não ver nada além de seu rosto, que a deixe muda para qualquer palavra que não seja o nome de seu amado ou daqueles que a amam, selar o coração dela para que nenhuma outra afeição além do amor dele possa entrar nele, trancar as chaves do tesouro de sua imaginação para que ela não possa formar nenhuma outra imagem além da imagem de seu amado, seja pela lembrança de sua visão direta ou pela criação inspirada nas descrições de outras pessoas, para que ela possa dizer com o poeta: “Eu te amo” e para que ela possa dizer com o poeta: “Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo! para que ele possa dizer com o poeta:
Sua imagem está em meus olhos,
Em minha boca está seu nome,
Em meu coração, seu abrigo.
Você está ausente de mim! Onde?
E de sua amada e somente para sua amada, ouvir, ver e falar.
Esse poder da fantasia amorosa foi tão longe em mim a ponto de representar meu Amado diante de meus olhos, em forma corpórea e objetiva, extramental, assim como o anjo Gabriel apareceu corporalmente ao Profeta. Não ME senti capacitado a olhar para ele. Ele falou comigo. Eu o ouvia e o entendia. Essas aparições ME deixaram em tal estado que, por alguns dias, eu não conseguia comer: toda vez que eu ia até a mesa, lá estava Ele em pé em uma das extremidades, olhando para mim e ME dizendo, em uma linguagem que eu ouvia com meus próprios ouvidos: “E você vai comer, vendo-ME?” E era impossível para mim comer; mas eu não sentia fome; pelo contrário, eu ficava tão cheio Dele que ficava gordo e intoxicado de olhar para Ele. Assim, Ele se tornou para mim como alimento. Meus amigos e minha família se maravilharam com o fato de eu ter engordado sem comer, pois continuei assim por muitos dias, sem provar nada e sem sentir fome nem sede. Mas durante todo esse tempo, Ele nunca deixou de ser o alvo de meu olhar, quer eu estivesse em pé ou sentado, em movimento ou em repouso.