Ilha Ea

ILHA — Ilha Æa — Ilha Æaia

Pierre Gordon: A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE

Seguindo as tradições relativas aos Argonautas, não é duvidoso que Aia ou Æa se aplique à Cólquida: a palavra é sem dúvida a mesma que Gaia (= terra); significava então a Terra por excelência, a Terra pura; em outros termos, o que está em causa, é uma região incorporada à Grande Montanha. Para entender que se pôde, no caso, falar de uma ilha, basta notar que o vocábulo apia, que, em sânscrito, quer dizer aquático, designa, em língua cita, ao mesmo tempo a terra e uma ilha; em língua pelasgo, apia era o nome primitivo do Peloponésio e da Tessália; nas línguas góticas, originárias das línguas géticas, apia se tornou avia; a Escandinavia nada mais é que a Ilha Sombreada (Scandoein-avia); um país banhado pela água era assim uma ilha, mesmo se não fosse completamente cercado de água; fomos longe nesta via, como o as velhas expressões Ile de France, Ile de Persois, etc.; o termo ilha não tem mais aqui outro sentido que aquele de pays (país).

É possível que Circe e seu «irmão» Æetes tenham vivido sobre dois territórios contíguos, habitados por dois clãs divinos complementares (sistema bipartite ou dualista, ou dicotômico), e que o domínio do primeiro tenha sido um cantão quase insular, tornado pouco a pouco uma «ilha das mulheres»; a aventura acontecida aos companheiros de Ulisses (Odisseia X 230-364) mostra que aí se praticavam iniciações, ao longo das quais os neófitos eram transformados em porcos divinos. Esta informação é do maior interesse; demonstra a alta antiguidade dos ritos considerados. Os únicos animais que domesticou a civilização matriarcal antes das combinações culturais com o ciclo dos pastores nômades são com efeito o porco, o cão e a galinha; estão aí nos grupos de direito feminino, os mais antigos animais sacrificiais e divinizantes. É sem dúvida, primitivamente, uma honra insigne ser transformado em porco pela rainha-sacerdotisa, mais tarde decaindo ao nível de maga. Quando Ulisses, sob o conselho da encantadora, vai visitar a entrada dos infernos (Odisseia X, 466 ss), não tem que se distanciar, os «infernos», de que falaremos, não sendo na origem senão o mundo subterrâneo (inferi, infra) próprio ao país dos deuses.

Pierre Gordon