Ibn Arabi distingue três graus [de ciência]: ‘ilm al-‘aql, a ciência adquirida por meio da operação do intelecto; ‘ilm al-ahwâl, a “ciência dos estados”, que só pode ser obtida por meio da experiência pessoal íntima (dhawq); e ‘ilm al-asrâr, a “ciência dos segredos”, que vem da infusão do Espírito Santo e pertence aos profetas e santos. Uma severa advertência é dirigida àqueles que rejeitam a contribuição do sâhib al-asrâr, o depositário dos segredos divinos, bem como àqueles que o confundem com o filósofo, porque há uma possível coincidência entre o que o último afirma e o que o primeiro afirma: o modo de acesso à ciência e o grau de certeza de um e de outro são bastante diferentes. Quanto à teologia (kalâm), aqueles que se prepararam para receber teofanias não têm utilidade para ela e rejeitam suas pretensões de validar ou invalidar crenças. A prova disso é que os fiéis comuns (al-‘âmma), cuja fé é sólida, ignoram a kalâm e extraem sua crença diretamente do significado óbvio da Revelação (min zâhir al-kitâb al-‘azîz). Os extremos, portanto, se encontram e o gnóstico autêntico (al-‘ârif bi-Llâh) está mais próximo do simples fiel do que do teólogo (al-mutakallim).
A primeira ‘aqîda (pp. 36-38), a única presente na versão original do texto, é precisamente aquela à qual todo muçulmano deve aderir e é, além disso, apenas uma breve expressão dos artigos fundamentais do credo tradicional. A segunda (pp. 38-41), a dos “teólogos”, é de fato, como o autor menciona, nada mais do que um resumo em prosa rimada de uma obra de Ghazali, Al-iqtisâd fi l-i’tiqâd. Ela assume a forma de um diálogo “sob a cúpula de Arîn”, ou seja, no centro do mundo, entre quatro personagens que correspondem aos quatro pontos cardeais. O terceiro (pp. 41-47), o da “elite” (ahl al-ikhtisâs), é uma formulação mista (entre especulação e revelação espiritual: bayna l-nazar wa l-kashf) que já anuncia muito elipticamente a metafísica akbariana, mas se enquadra na estrutura da problemática do kalâm enquanto critica repetidamente as inconsistências da posição ash’arite. Vale a pena notar, no entanto, uma das afirmações mais importantes e repetidas de Ibn Arabi (pp. 38 e 47): a profissão de fé da “elite da elite” (‘aqîda khulâsat al-khâssa) não se encontra aí ou em qualquer lugar específico da obra: está “espalhada pelos capítulos deste livro”. [MCFutuhat]