A inteligência não nos pertence por inteiro… (FS)

Frithjof Schuon – Da Unidade Transcendente das Religiões (FSUTR)

X. Ser homem é conhecer (capítulo da primeira edição retirado na revisão)

É necessário compreender duas coisas: primeiro, que a inteligência não nos pertence, e aquela que nos pertence não é toda a inteligência; segundo, que a inteligência, na medida em que nos pertence, não se basta a si mesma, ela precisa da nobreza da alma, da piedade e da virtude para poder transcender sua particularidade humana e alcançar a inteligência em si. A inteligência não acompanhada de virtude carece, de fato, de sinceridade, e a falta de sinceridade limita necessariamente seu horizonte; é preciso ser o que se deseja tornar, ou, em outras palavras, é preciso antecipar moralmente – diríamos até “esteticamente” – a ordem transcendente que se deseja conhecer, pois Deus é perfeito em todos os aspectos. A integridade moral, e aqui se trata de uma moral intrínseca, certamente não é uma garantia de conhecimento metafísico, mas é uma condição para o funcionamento integral da inteligência com base em dados doutrinais suficientes. Isso significa que o orgulho intelectual – ou mais propriamente intelectualista – é excluído, primeiro da inteligência em si e, em seguida, da inteligência acompanhada da virtude; esta implica o sentido de nossa pequenez tanto quanto o sentido do sagrado. Seria preciso dizer também que, se há uma inteligência que é conceitual ou doutrinal, há outra que é existencial ou moral: é preciso ser inteligente não apenas pelo pensamento, mas também pelo nosso ser, que também é fundamentalmente uma adequação ao Real divino.

 

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