Jaideva Singh (JSSK:xvi-xvii) – Spanda

Spanda é uma palavra muito técnica desse sistema. Literalmente, é algum tipo de movimento ou pulsação. Mas, quando aplicada ao Divino, não pode significar movimento.

Abhinavagupta deixa esse ponto luminosamente claro nestas linhas:

“Spandana significa algum tipo de movimento. Se houver movimento da natureza essencial do Divino em direção a outro objeto, é um movimento definitivo, não um tipo qualquer, caso contrário, o movimento em si não seria nada. Portanto, Spanda é apenas uma pulsação, um êxtase espiritual na natureza essencial do Divino que exclui toda sucessão. Esse é o significado da palavra Kiñcit em kiñcit calanam, que deve ser interpretada como “‘movimento como se fosse’”.

O movimento ou a movimentação ocorre apenas em uma estrutura espaço-temporal. O Supremo transcende todas as noções de espaço e tempo. Spanda, portanto, no caso do Supremo, não é nem movimento físico, nem atividade psicológica como dor e prazer, nem atividade prânica como fome ou sede. É o pulsar do êxtase da Divina consciência-de-Eu (vimarśa). A Divina consciência-de-Eu é o dinamismo espiritual. É a pulsação criativa Divina. É o pulsar da svātantrya de Śiva ou Liberdade absoluta.

Se Spanda não é nenhum tipo de movimento, como a aplicação dessa palavra pode ser justificada para a atividade do Supremo, pois a palavra Spanda significa “um tipo de movimento”? Esta é a explicação oferecida por Abhinavagupta.

“Spandana significa um pouco de movimento. A característica de ‘um pouco’ consiste no fato de que mesmo o imóvel aparece ‘como se estivesse se movendo’, porque embora a luz da consciência não mude em nada, ainda assim parece estar mudando como se estivesse. O imóvel aparece como se estivesse tendo uma variedade de manifestações”.

Spanda é, portanto, o dinamismo espiritual sem nenhum movimento em si mesmo, mas servindo como causa sine qua non de todos os movimentos.

A Consciência Divina Infinita e Perfeita sempre tem vimarśa ou ser/estar-ciente-de-si. Este ser/estar-ciente-de-si é uma atividade sutil que é o dinamismo espiritual, e não qualquer atividade física, psicológica ou prânica. Como Utpaladeva coloca em Īśvarapratyabhijñā :

O Divino é denominado o grande Senhor (Maheśvara) por causa de Seu sempre presente e imutável ser/estar-ciente-de-si (vimarśa). Esse ser/estar-ciente-de-si em sua absoluta liberdade constitui o conhecimento e a atividade Divinos (śuddha – puros).

Spanda é apenas outro nome de ser/estar-ciente-de-si ou Vimarśa. Como diz Ksemarāja, Spanda também conota a svātantrya ou Liberdade absoluta do Divino (Bhagavataḥ svātantrya-śaktiḥ). Vimarśa, parāśakti, svātantrya, āiśvarya, kartṛtva, sphurattā, sāra, hṛdaya e spanda são sinônimos em Śaivāgama.

 

Xivaísmo de Caxemira