Apresentação e excertos do livro “Se rendre immortel suivi du “Traité de la résurrection” par Mollâ Sadrâ Shîrâzî“, Fata Morgana, 2000
Christian Jambet apresenta neste livro um curto tratado de Sadroddin Mohammad Shirazi, denominado familiarmente Molla Sadra, nascido em Shiraz por volta de 1571 dC, tendo vivido no tempo que os Safavidas começavam a unificar o Irã, submetendo-o ao Islã xiita. Foi em Ispahan que Molla Sadra estudou, recebendo um ensino completo das disciplinas teológicas e se formando em filosofia na escola de Mir Damad, graças ao qual conheceu a tradição aviceniana, cujos principais marcos iranianos foram Sohravardi (morto mártir em 1191) e Nasiroddin Tusi (+1274).
Molla Sadra é conhecido pela Soma, integrando metafísica, física e doutrina escatológica, intitulada “A Sabedoria sobre-eminente concernente às quatro viagens do inteligível”. Nesta obra opera uma profunda revolução ontológica, abalando a tradição essencialista, gerando controvérsias que ainda persistem hoje em dia. Sadra repensa a herança de Avicena, Sohravardi e Ibn Arabi, propondo ao islame xiita uma interpretação espiritual da promessa corânica e dos ensinamentos dos santos Imames. Sadra também escreveu outros livros importantes como: O Livros da origem e do retorno, As Chaves do mundo supra-sensível, As Testemunhas Divinas, além de várias epístolas, comentários místicos do Corão e dos Imames, e um diwan de poemas em persa.
O Tratado da Ressurreição, literalmente Epístola sobre o rejuntamento, reproduz o ensino de um dos capítulos de sua obra maior (mencionada acima), com o título: “Indicação do rejuntamento do conjunto dos existentes, até os minerais e plantas, em Deus, como demonstram os versos corânicos”, ou “rejeição dos modos de ser no rejuntamento dos mundos”. Ou seja, um tratado que põe luz sobre duas intenções maiores: interpretar e “salvar”, contra o alegorismo filosófico e o literalismo embrutecedor dos doutores da lei, o sentido espiritual, quer dizer o sentido real e concreto dos versos corânicos consagrados à retribuição, e compreender, contra os bastiões da eternidade do mundo, o fim do tempo, a cessação das condições de existência, nos termos plotinianos da conversão no Uno, compreendida como o dissolução dos existentes separados, prelúdio a sua super-existência intensiva no princípio.