Universo Ptolomaico
Da infinita luz de Deus, uma espiral desce para as profundezas da matéria. O Absoluto cria pela limitação de sua própria infinidade, em um ato descrito pela legenda: “A unidade simples; o princípio; o ponto de partida; a fonte de essências; o primeiro ato; o Ser dos seres; a Natureza produzindo a natureza”.
Primeiro vem a Mente Mundial ou Cósmica (Mens), abre por um lado para o Absoluto: por outro entrando o vortex de constrição que é a criação. A primeira las letras hebraicas, Alef, marca este princípio dos princípios, do qual as outras 21 hipóstases emanam em um esquema triplo.
As viradas da espiral marcam 2-10 são as nove ordens de anjos: Serafim, Querubim, Domínios, Tronos, Poderes, Principalidades, (Virtudes)), Arcanjos e Anjos. Estes habitam reinos metafísicos, incorpóreos. Com 11, o céu das estrelas fixas, alcançamos a esfera do zodíaco que abarca os sete planetas caldaicos (12-18): Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Luz. A terceira divisão é a região sublunar onde tudo é composto dos Quatro Elementos (19-22): fogo, ar, água e terra. Os arquétipos ou inteligências que presidem sobre cada uma das vinte duas esferas são representados ambos pelas letras hebraicas e pelas cabeças aladas.
Enquanto a visão anterior representava o cosmos como um movimento em espiral de Deus para baixo. é aqui mostrada como um todo instantâneo. O Espírito de Deus, na forma de uma pomba, esculpe o universo das nuvens do Nada. As três divisões estão mais claramente enunciadas aqui. A hierarquia celestial em nove partes está dividida em somente três círculos (provavelmente correspondendo à divisão órfica-platônica dos Deuses Inteligíveis, Inteligíveis-Intelectuais e Deuses Intelectuais). As estrelas fixas e os sete planetas seguem, dos quais o Sol e a Lua compartilham sua luz sobre o mundo sublunar. Primeiro dos Elementos é o fogo; então vem ar e água, propriamente contendo pássaros e peixes; então terra — e aqui parece ser nosso globo terrestre ele mesmo na aurora da criação. Adão e Eva estão visíveis no Jardim do Éden, já conversando com a serpente.
“O Espelho da Totalidade da Natureza e a Imagem da Arte” é o mais compreensivo de todos os esquemas cósmicos de Fludd que segue as representação anteriores do “Universo Ptolomaico” em sua configuração geral. O mundo sublunar é desenhado em grande detalhe. Fogo e ar têm seus círculos, mas água e terra estão representados como uma paisagem realística na qual a Natureza está de pé. Sob a égide destes elementos estão três reinos da Natureza:
Animal — contendo imagens de golfinho, serpente, leão homem, mulher, águia, caramujo e peixe.
Vegetal — árvores, videiras, trigo, flores e raízes.
Mineral — antimônio, chumbo, ouro, prata, cobre, sal amoníaco, cada regido pelo planeta apropriado
As conexões entre os mundos planetários e elementares são apresentadas por linhas pontilhadas; note-se também que o homem está de face para o Sol e a mulher para a Lua. A presença de três sóis pode ser uma referência à doutrina órfica-platônica dos Triplo Sol, que levou o Imperador Juliano a sua morte em 364, por divulgá-la.
A descrição de Fludd centra na figura da Natureza, representada como uma bela virgem. “Ela não é uma deusa, mas uma próxima ministra de Deus, sob o qual ela governa os mundos subcelestiais. Na figura ela se junta a Deus por uma corrente (a catena aurea de Homero, que desce através de toda hierarquia de existência). Ela é a Alma do Mundo (anima mundi), ou o Fogo Invisível de Heráclito e Zoroastro. É ela que gira a esfera das estrelas e dispõe as influências planetárias para as criaturas de seu seio.
“Em seu peito está o verdadeiro Sol; em seu ventre a Lua. Seu coração dá luz às estrelas e planetas, cuja influência, infusa em seu útero pelo espírito mercurial (chamado pelos filósofos o Espírito da Luz), é enviado ao centro da Terra. Seu pé direito pisa na terra, seu esquerdo na água, significando a conjunção do enxofre e do mercúrio sem o qual nada pode ser criado”.
Assim Fludd descreve ela em linguagem alquímica, críptica. Em termos hindus, ela é a Shakti de Deus, seu poder criativo. Sua conjunção com ela produz o universo, e similar conjunções de deuses inferiores com seus consortes geram cada nível descendente da existência (v. Raio Divino). Fludd, como um monoteísta, não usaria esta imagem; mas ele tem implícito os mesmos princípios pelos símbolos de conjunção no útero da Natureza entre influências estelares e o espírito mercurial, e aos seus pés entre enxofre e mercúrio. A criação em todos os níveis requer uma tensão entre opostos, e os símbolos para isto são múltiplos.
A Natureza, diz Fludd, tem um ajudante que a imitando produz coisas similares às dela. Este “Macaco da Natureza” chamamo Arte, que ergueu-se da ingenuidade humana. Na figura ele forma o término da Cadeia do Ser, sustentando a mesma relação à Natureza que ela com Deus. Podemos dizer, com o Corão, que o homem é um vice-regente de Deus sobre a Terra, onde é confiado a tarefa de supervisionar esta parte do universo. As artes, que nos dias de Fludd incluíam o que denominamos ciências, são os meios do homem de fazer a Terra um lugar feliz e belo — se as usa corretamente.
Artes Liberais — engenharia, cosmografia, astronomia, geomancia, aritmética, música, geometria, pintura e fortificação.
Arte superando a Natureza no reino animal — apicultura, produção de seda, medicina
Arte assistindo a Natureza no reino vegetal — fruticultura, agricultura
Arte corrigindo a Natureza no reino mineral — destilação com alambique