BERTA: Se não há maneira, então estamos sentados aqui por nada.
KARL: Ótimo. Imagine se sentasses aqui para alguma coisa?!
BERTA: Mas gosto de ter uma meta, de fato.
KARL: Sim, és uma guardadora-de-meta [goal-keeper]. Eu sei. Sem uma meta, não haveria Berta. Berta lutará por uma meta como se pela vida.
BERTA: É verdade.
KARL: Sim, eu lhe digo. Esse é o sistema de sobrevivência de uma imagem. Sem essa imagem de uma meta, a imagem não pode ficar. Ela teme a morte; teme a existência. Está em uma crise existencial e, fora dessa crise, tem que ter uma meta, tem que ter um ponto de referência, porque sem um ponto de referência, simplesmente não está aí. Simplesmente desaparece. Que piada – o Todo-Poderoso, que é Berta, temendo a si próprio, o sem-meta.
BERTA: Em Amsterdã, eu estava morrendo sem meta e também não tinha energia para fazer uma meta. E então, no final, eu quase não tinha energia para andar. Não havia sentido em nada.
KARL: Talvez sejas o primeiro Bench Baba de Amsterdam! [risadas] Talvez tenhas perdido isto, Berta, de novo!
BERTA: Eu acho que sim.
KARL: Bench Baba era um homem santo [em Tiruvannamalai], que simplesmente permaneceu em um banco por cinquenta ou sessenta anos, apenas contando “um, dois, três”. Total falta de sentido. Mas ele foi um apontador para Aquilo que és. Muitos estudantes vieram de toda a Índia só para vê-lo contar “um, dois, três”. Como eu. [risos] Estou sempre contando “um, dois, três”. [levanta o polegar, o dedo indicador e o dedo médio]
THERESE: “Karl Yoga”! [grupo ri]
MATTIAS: Mas adicionastes algo. Existem os três estados e o desaparecimento no punho. Então tens quatro – quatro estados.
KARL: Isto torna a mão diferente quando abre ou fecha? Ainda é a mão. Ainda é o Coração. O Coração que se abre para isto [levanta o polegar, o dedo indicador e o dedo médio] ainda é o Coração. E fechando à noite [fecha o punho], ainda é o Coração. Nunca perdes teu Coração. Não podes perder o que és, como és o Coração ele mesmo.
Assim, mesmo como “eu sou assim ou assado”, nunca perdestes o que és no que ainda é o Coração. Então tudo é Coração. O que quer que seja, é Coração. Não podes perder o que és. À noite, simplesmente voltas ao potencial. E a partir desse potencial, de manhã, acordas novamente para a realização, a auto-experiência, o tempo todo. Só podes experimentar o que és, em seus infinitos aspectos e formas, e tudo é Coração, como o Coração é tudo o que existe.
KLARA: O que queres dizer quando dizes “Coração”?
KARL: Eu quero dizer o que eu quero dizer! [grupo ri]
KLARA: Sim, o que queres dizer?
KARL: Eu não estou falando sobre o coração físico, ou qualquer coração espiritual, ou qualquer coração. Estou falando da natureza búdica que és, que não pode ser definida, que é a essência da existência – o que quer que a chame, não é. Mas Isso é o que és. Não podes dar um nome, uma forma, uma figura, uma ideia. Porque o que poderias dizer é uma imagem. Não se adequa.
Sempre que o defines, desejas enquadrar este coração, mas o coração não pode ser enquadrado. Não podes aprisionar o coração, porque o coração é tudo o que existe. Quando existe apenas Coração, não há prisão por nada. Portanto, não podes aprisioná-lo por conhecê-lo ou não conhecê-lo, ou por qualquer ideia que possas ter sobre o Coração. Não podes enquadrá-lo.
Essa é a própria liberdade. A liberdade, realizando-se no que quer que seja, ainda é liberdade. A liberdade na ideia de ser preso ainda é liberdade. Porque a liberdade aprisionada pela liberdade ainda é liberdade. Então Coração em Coração ainda é Coração.
Assim, como só há Coração, e Isso que é liberdade ela mesma é Coração, liberdade significa que não há segundo Coração. Não há segunda edição da existência. Enquanto existes, não podes duvidar, porque mesmo para duvidar, tens que existir. Esta existência, que é totalmente “em nenhum sentido”, não tem segundo. Sem um segundo, há liberdade. Sem um segundo, não podes controlar nada, nem mesmo a ti mesmo. Deve haver dois para ter um controlador e um que seja controlado.
Esse é o paraíso. Paraíso significa que não há segundo para controlar. Não podes controlar outro e não podes ser controlado por ninguém. Então, o que quer que te controle é o que és. Então, quem se importa se és controlado pelo que és? E daí? Não podes sair do controle absoluto, que é a realização de Isso que és.
Esse desamparo está sentado aqui, falando sobre o que não podes falar de novo e de novo, durante séculos, até eras. Eu não tenho ideia de quanto tempo isso já dura. Isso nunca vai parar. O Si mesmo nunca fala o suficiente sobre o Si mesmo. Nunca, jamais será satisfeito conversando. Essa é a beleza. Não podes satisfazer algo que é a própria satisfação. Está tão completo. Não podes torná-lo mais – ou menos. Então podes falar e falar e falar, cantar e cantar e cantar, blá, blá, blá, e isso é totalmente irrelevante. É lindo este contentamento!