1:11:15 Q: Remover os obstáculos que me fazem pensar que já não sou realizado?
K: Bela tentativa! Seria uma abordagem vedanta. Por que não? Não me pergunte. Se queres remover os obstáculos, faça-o. Não quero te afastar deste trabalho.
Q: Mas não é teu caminho?
K: Não tenho ideia do que é ou não é um caminho. A próxima experiência estará aí, eu gostando ou não dela. O próximo passo é o próximo passo. E o próximo gole de café é o próximo gole de café. E a próxima abordagem é a próxima abordagem. Somos como este artista da Coreia do Sul. Ele colocou centenas de monitores de TV em uma parede e pôs um Buda diante deles, em face a uma infinidade de programas de TV. A gente é como este Buda que não pode decidir que programa ver, e que não tem controle remoto. E isto é tudo! E só pode dizer naquele programa tem um obstáculo acontecendo, naquele outro programa as coisa funcionam, etc, etc.. E tudo isto junto é como um programa infinito de que? Experiências que não fazem Isso-que-é mais ou menos o-que-é, e assim todos os obstáculos devem ser o-que-são. Removendo eles ou não. Por que não? Tente ao máximo.
Q: Sou muito preguiçoso…
K: Mas já te pedi que sejas a preguiça do preguiçoso. Pois este seria teu estado natural. Basta ser o que não podes não ser, esse Absoluto Vidente, que não está em nenhum destes programas. E não pode controlar nada. Ser o Todo-poderoso mas não ter nenhum poder. Ser o Onipotente ele mesmo mas totalmente impotente para mudar os programas. Mas aquele que pensa que é potente nestes programas e que pode mudá-los, deixe ele fazer o que ele quiser. Todos os fantasmas, sistemas de crenças, tentando se livrar de algo. Eles não têm nenhuma influência em Isso-que-és, nunca houve qualquer influência.
Q: Mas não estou particularmente ligado à ideia de mudar.
K: Mas mesmo dizer que nada há a mudar, seria um conceito diferente e um programa diferente. Mas para que hajam estes conceitos tens que ser este pré-senso [pre-sense, trocadilho inglês com presence]. Para que estas sensações, sentidos, vibrações, possam ser, sem o pré-senso de Isso-que-és não haveria presença disto. Esta inocência de Isso-que-és está realizando a si mesma na presença de todos os sentidos e sensações. Mas Isso-que-és não está envolvido em nada. Esta é a maneira que te realizas a ti mesmo, em todos os obstáculos e coisas. E Ramana chama isto renúncia da renúncia, pois sendo Isso-que-és renuncias as possibilidades de que jamais possas renunciar Isso-que-és, justamente por ser Isso-que-és. Por isso também devotar a devoção. Isso-que-és não é proprietário de nada, como podes devotar algo? É a devoção da devoção, ou renúncia da renúncia, apenas por ser Isso-que-és. Só por ser Isso-que-é, como Nisargadatta, “eu sou isso”. Isto é tudo. Mas não dando nomes e fazendo algo, mas apenas “eu sou isso que é o eu sou”.