P: Quando falas dos sete níveis…
K: Diferentes formas de experimentar si mesmo.
P: Dizes que não há hierarquia entre eles?
K: Em conceito sim, mas em realidade não. Do ponto de vista do fantasma, com certeza há níveis. Quanto mais alto tu chegas, mais alto o fantasma chega.
P: Esses sete níveis incluem o mundo da fantasia?
K: É tudo fantasia!
P: Quero dizer, o que normalmente chamamos de fantasia…
K: O que é normal e o que não é?
P: Quando estamos sonhando acordado, projetando…
K: Quando vemos televisão, quando lemos livros. [Risos] Agora está a falar do primeiro nível de experiências relativas, histórias e fantasias. Tudo isso pertence ao primeiro nível, imagine!
P: O intelecto em seu nível mais elevado e mais puro…
K: Ainda é o primeiro nível. No segundo nível, já não há separação e não há ninguém que faça qualquer separação entre alto e baixo. Alto e baixo e todas as polaridades são ainda o primeiro nível, se é que falamos de hierarquia. Quando falamos do primeiro, falamos das diferenças entre o melhor e o menos bom, o alto e o baixo e tudo isso. Tudo isso pertence ao primeiro.
P: Ter uma fantasia continua a ser intelectual?
K: Sim.
P: Esse não é um esquema muito bom para compreender as coisas…
K: No primeiro nível, não há compreensão alguma. Só há ignorância.
P: Não se pode dizer que toda a compreensão é ignorância…
K: Claro que posso dizer isso. Observe-me! [Risos].
[…]P: É simplesmente absurdo…
K: Tudo isso está no mesmo nível.
P: Então e os outros seis níveis?
K: Nos outros seis, não há o que quer que seja. Não há dois.
[…]P: Os sonhos também estão no primeiro nível?
K: Tudo no primeiro nível. Tudo o que podemos falar, o que podemos nomear, o que podemos enquadrar está tudo no primeiro.
P: É como se houvesse sete compartimentos e você comprime tudo no primeiro e depois tem seis compartimentos vazios…
K: Onde quer que haja coisas, formas e conceitos se está apenas no primeiro nível. Adyashanti fala de “nada” [no-thing], que é o segundo nível. Quando falamos de coisas, falamos do primeiro e nada seria o segundo — a forma e o sem forma. Mas só podemos falar do segundo nível no primeiro nível. Quando se está no segundo, não se fala mais.
P: E os outros cinco?
K: Imagine! O terceiro é a pura consciência — pura luz, nada acontece nele; nem sequer “nada” nele acontece. O primeiro é acontecimento, o segundo é não-acontecimento, o terceiro não é nem acontecimento nem não-acontecimento. Depois, mesmo aquilo que está para além, o absoluto. Os três primeiros são estados de presença — presença do acontecimento, presença do não-acontecimento e a presença de nenhum dos dois. Depois vem a ausência de tudo isso. Chama-se a isso o estado de Cristo — Iniciação àquele que está para além. Depois disso, há os cinco, seis e sete [estados].
Em todo o misticismo existem estes sete níveis. Os três primeiros são pessoais, o quarto está além e os cinco, seis e sete são impessoais. Aquele que afirma uma diferença entre o primeiro e o segundo (estado) continua a ser uma afirmação pessoal. Mesmo a consciência que é diferente do primeiro e do segundo nível é pessoal. Esse é o samadhi pessoal.
Depois começa o impessoal. Os últimos quatro são samadhis impessoais. Do quarto estado, ninguém volta porque não há alguém. Só se pode mudar como pessoa nos três primeiros. E somente nos três primeiros, há um mestre da consciência, o mestre da unidade e há discípulos no primeiro. Esse é o reino do mestre–discípulo. Agora estás estabelecido no primeiro. Depois há um que está estabelecido no segundo — a unicidade. Depois, há aquele que está estabelecido na consciência. Estas são as diferenças que podes alcançar como um fantasma, porque só um fantasma precisa de ser estabelecido. Na quarta, não há como estabelecer ninguém. E o mesmo para o quinto, sexto e sétimo, porque eles são apenas resultados do quarto estado — ninguém acorda ao acordar. Depois, os últimos três estados são — ninguém é um na unidade e ninguém está consciente na consciência e ninguém está separado na separação.
[RENZ, Karl. THE LIES ABOUT TRUTH. Mumbai: Zen Publications, 2014]