Deus, Homem Logos
O Logos não está vivo nas línguas contemporâneas, e não tem estado por muito tempo. Estas línguas são línguas-palavra, i.é. toda palavra «significa» algo de uma vez por todas. Elas não são apropriadas para expressar a vida ou presença diretamente, mas só indiretamente como sinais para a palavra sem palavra.
Verdadeiro pensar, improvisação (quando não se conhece de antemão o que se vai pensar — uma rara realização), vive além das línguas-palavra. Certa vez pensar e falar estiveram unidos, como ainda estão hoje em da para as crianças. O pensamento vivo deve penetrar solidificado, língua morta: isto é a ressurreição da língua. Enquanto sol, lua, estrelas e fenômenos da natureza eram transparentes para o homem — vestimentas do espírito — eles eram verdadeiramente experienciados e honrados como seres divinos. Enquanto ele os experimentava, o homem ainda ouvia a palavra que os «criou» e os deu sua existência como som, lua e estrelas. Ele ouviu a palavra que eram, pois elas diziam para o homem: sol, lua, estrela. Mas então eles se tornaram obscuros, como fizeram para Abraão por exemplo. Abraão tinha que buscar aquele que fez o sol e a lua, mas que não mais falava através deles — o invisível, quem agora era só e lua, mas garantia o ser de todos eles. Este garantidor era o Logos em sua vestimenta e aparência como o Deus de um povo e da natureza — YHWH — que podia certa vez ser alcançado através do sol e da lua, porque os fez sol e lua. O Logos é o Deus Uno, ou o semblante do Deus Uno através do qual o Uno mostra-se ao homem, olha sobre o homem — velado, ou por vezes, face a face. Eis porque o Logos-religião, a Cristandade viva, essencial, é a religião humana universal. A revelação do Logos em uma forma humana, terrestre, é a segunda permeação do homem pelo Logos (Gen 2,7). Compreender esta revelação, se tornar consciente dela, significa que o homem percebe o cognoscedor e o falador dentro dele mesmo.
À primeira criação do homem (Gen 1,27), Deus «disse» o homem e disse a ele ao mesmo tempo. Isto é representado por Michelangelo na língua silenciosa da pintura. Deus aponte para o homem, e assim o cria, enquanto o homem responde ao gesto de apontar de Deus. Envergonhadamente e inseguramente, o homem aponta para Deus, para o dedo que aponta firmemente para ele. Os dois dedos apontadores quase se tocam; Deus e o homem olhas um para o outro. A existência do homem começa este diálogo primordial. Isto é o homem. A palavra sobrevoa entre eles em seu apontar e olhar. Os sinais exteriores, face e mão, apontam para seu ser real. Sim, eles apontam.
Através da eras o Logos foi visto fora do homem em diferentes formas, como luz, como sol, como o elemento iluminador do universo, como uma pessoa. Na religião hebraica, se tornou invisível, e algumas vezes mesmo a expressão «Palavra de Deus» é usada. Na Cristandade, a palavra move para o centro.
A epifania do Logos — seu aparição entre homens — não é realmente possível; conhecimento real do Logos é impedido enquanto é visto desde fora. Porque cognoscer permanece não irrealizado e inexperimentado, não se pode cognoscer. Cognoscer nas profundezas mais fundas significa simultaneamente identidade e distinção do eu e do mundo, e isto ocorre por um «eu». Portanto, se tornar consciente do Logos é se tornar consciente da luz interior, a luz do mundo. Isto não ocorre em qualquer parte ou em qualquer tempo. No entanto é também verdadeira autoconsciência, pela qual o elemento não-cognoscente, ego-consciência, recua. Aquele que fala revela ele mesmo primeiramente em seres humanos no processo de pensar. A intuição do Logos é simultaneamente a intuição do logos interior. O homem desperta na palavra. O invisível eu-sou-o-eu-sou-aí — o Deus presente, vivente — se torna presente em e através do homem.