SIMBOLISMO — LITERATURA — LEGENDA ÁUREA
Seu autor era um mendicante, Jacopo, nascido em 1226 na cidade de Varazze, próxima a Gênova. Com dezoito anos de idade ele ingressara na Ordem Dominicana, em cuja hierarquia progrediu por usa cultura e zelo evangelizador, tornando-se a partir de 1267, por vinte anos, o líder da Ordem na importante província da Lombardia. Quando Gênova foi excomungada por ter continuado a comerciar com a Sicília apesar da proibição papal, Jacopo foi (junto com o franciscano Rufino de Alessandria) o escolhido pela cidade para ir a Roma solicitar perdão. Em 1292, foi sagrado arcebispo de Gênova pelo papa Nicolau IV. Nesse cargo teve, em 1295, papel decisivo na reconciliação entre genoveses gibelinos (adeptos do imperador) e guelfos (adeptos do papa). Morreu em 1298, admirado pelos seus concidadãos, tornando-se em 1645 patrono de Varezze e sendo beatificado em 1816 pelo papa Pio VII.
Autor de muitos sermões e de uma importante Crônica de Gênova escrita em 1293, sua grande obra — tenha ela sido individual ou contado com colaboradores — foia a coletânea hagiográfica que ficaria conhecida por Legenda Áurea. Isto é, um conjunto de textos (legenda, literalmente “aquilo que deve ser lido”, também tinha o sentido de “leitura da vida dos santos”) de grande valor (daí áurea, “de ouro”) moral e pedagógico. Vale notar que “legenda” não existe no latim clássico, sendo criação da liturgia medieval, que no século IX transformou o adjetivo verbal de legere em substantivo que indicasse a narrativa hagiográfica lida na festa de cada santo. Em meados do século XII, o famoso liturgista João Beleth usou a palavra apenas relativamente à vida dos santos confessores e não à paixão dos mártires, mas de forma geral tal distinção não foi aceita, como mostra a própria Legenda áurea. Ainda com o sentido tradicional, “legenda” passou em fins do século XII para o francês e depois para as outras línguas vernáculas, e somente no século XIX, com os positivistas ganhou a acepção de “lenda”, relato que deforma fatos e personagens históricos.
O objetivo imediato de Jacopo de Varazze era fornecer aos seus colegas de hábito, os dominicanos ou frades pregadores, material para a elaboração de seus sermões. Material teologicamente correto, isento de qualquer contágio herético, mas também compreensível e agradável aos leigos que ouviriam a pregação. Para tanto Jacopo naturalmente utilizou a rica literatura hagiográfica preexistente, mas não se limitou a compilá-la, o que tinha sido até então o mais frequente. (Adaptado da apresentação da tradução em português de Hilário Franco Júnior, “A LEGENDA ÁUREA”)