COSMOLOGIACRIAÇÃO

VIDE: COSMOGONIA, GENESIS, GÊNESE, POIEIN, BERESHITH, PRINCÍPIO, ÁGUAS PRIMORDIAIS, SEPARAÇÃO, CREATIO EX NIHILO, CRIATURA; PALAVRACRIAÇÃOREVELAÇÃO; HOMEMCENTRO DA CRIAÇÃO; ALMA — CRIAÇÃO

Antes de examinar as diferentes citações que se seguem sobre o tema “criação” é importante ter em mente que o termo “criação” enseja pelo menos três acepções, referentes ao Criador, à Criatura e ao Criar, ou seja, uma acepção refere-se à criação enquanto processo, outra enquanto resultado, e uma terceira enquanto poder ou causa. As citações que se seguem devem ser examinadas tendo como questão de fundo “que criação está sendo contemplada?”, para que sejam devidamente apropriadas.

CRISTOLOGIA
GEMIDO DA CRIAÇÃO

Justino: CRIAÇÃOHOMEM

Gregório de Nissa: CRIAÇÃO E TEMPO

Serafim de Sarov: CRIAÇÃO

Jacob Boehme: CRIAÇÃO


GNOSTICISMO
Antonio Orbe: CRIAÇÃO ÚNICA


PERENIALISTAS: CRIAÇÃO
Christophe Andruzac prefere evitar o termo «criação», que se refere em geral aos dados das tradições religiosas, onde exprime a dependência profunda do coração do homem religioso: ora a dependência na ordem da vida espiritual (inteligência e amor) é muito distinta da dependência ao nível do ser. Esta distinção, que depende daquela, mais radical, entre ser, viver e pensar (esse, vivere et intelligere), não sendo mais percebida pelo conjunto do que se poderia chamar a «filosofia moderna» desde Descartes, cremos dever voltar ao termo técnico proposto por Tomás de Aquino, o esse creatum .

Outro ponto deveras importante que necessita reflexão é “criação de que?”: universo, cosmo, mundos, homem universal, ser humano, Filho de Deus. No caso do ser humano, trata-se da criação do hílico, do psíquico, do pneumático, do Filho de Deus. Muita reflexão a ser devidamente ordenada para ser justamente pensada, ou seja, pensada com justiça.


JUDAÍSMO
Paul Nothomb: RELATOS DA CRIAÇÃO — CREATIO — TÚNICAS DE CEGO

STEINSALTZ: MUNDO DA CRIAÇÃO


SUFISMO
Avicena: CRIAÇÃO

Ibn Arabi: CRIAÇÃO; DEUS E CRIAÇÃO; MUNDO DA CRIAÇÃO; SABEDORIA DOS PROFETAS

Henry Corbin: RECORRÊNCIA DA CRIAÇÃO

Toshihiko Izutsu: CRIAÇÃO PERPÉTUA


FILOSOFIA
Sérgio Fernandes: SER HUMANO

Em geral, não se tira um coelho de uma cartola vazia, a não ser por criação ex nihilo. Dito assim, o apelo prestidigitador aos espetáculos de mágica disfarça a poderosa linhagem dessa tese venerável: seu pedigree é platônico. Isso, na minha visão das coisas, diz tudo sobre sua altíssima semelhança com a Verdade.

A primeira parte da tese (não se tira um coelho de uma cartola vazia) é a menos difícil de ser compreendida, pois foi sobejamente elaborada e difundida na Filosofia por Kant e os kantianos e, na Ciência de hoje em dia, pela síntese neodarwinista. Já a segunda parte (a não ser por criação a partir do nada) inclui uma ideia que já era escandalosa, na antiguidade clássica, ao ser apresentada aos gregos pelos representantes das tradições judaico-cristãs (nesse ponto não faço distinção entre as tradições que, posteriormente, foram consideradas heréticas ou heterodoxas). Entendo que, a partir do nada, a criação do que quer que seja não pode ter o que quer que seja a ver com a ideia (“decaída”) de tempo. (Excluo as ideias mais antigas de temporalidade cíclica, por não passarem de “imagens móveis da eternidade”.) A partir do nada, a criação do que quer que seja implica a criação do próprio tempo. Há, de fato, um sentido, sutilíssimo, em que pretendo resgatar a noção de criação a partir não do nada, mas da compreensão dos simulacros da Existência. Mas este sentido tampouco tem a ver com o tempo.

Pois muito mal. E por essas e outras razões que a tese em questão não tem semelhança somente com a verdade, mas também com falsidades. Tem, por exemplo, levado a Mente, o Pensamento e a Linguagem (o Instrumento) a ver nela alguma semelhança com várias espécies de falsidade, dentre elas o chamado “argumento do conhecimento criador” (só se conhece aquilo que se cria, verum factum, etc.). Ora, afirmo que o chamado “argumento do conhecimento criador” é um contra-senso. E tamanho é o contra-senso, na minha visão dessas coisas, que não vejo porque ser delicado no tratamento deste assunto. Desincumbo-ME dele logo aqui, de maneira o mais curta e grossa possível. Em primeiro lugar, só há verdadeira criação ex nihil: qualquer outra coisa é contrafação, ou melhor, transformação ou artesanato, não criação. Logo, o “verum factum” só poderia significar algo como “só conheço o que transformo” ou “artefaço”, jamais “só conheço o que crio”. Em segundo lugar, ainda que se tome “criação” no sentido vulgar, ou seja, no sentido de “transformação”, seu uso no suposto “argumento” (do “conhecimento criador”) trai variadas confusões, das quais só ME darei ao trabalho de indicar as principais. Uma delas é a confusão entre “teoria” e “prática”; outra, mais grave, a confusão entre conhecer e criar.


GURDJIEFF
RELATOS DE BELZEBU: CRIAÇÃO DO MUNDO