(Hanegraaff2006)
A obra mais notória de Agrippa, considerada seu grande marco, e aquela que lhe deu a reputação injusta de ser um mago negro, é De occulta philosophia, cuja versão final em três livros foi publicada em 1533. Trata-se de uma síntese sistemática da “filosofia oculta” ou “magia” (Agrippa inicialmente quis chamá-la de De magia): o primeiro livro aborda a magia natural pertinente ao mundo sublunar ou elementar; o segundo discute o → simbolismo dos números, matemática, → música e → astrologia em relação ao mundo celestial; e o terceiro livro é amplamente cristão-cabalístico, focando na angelologia e na profecia ligadas ao mundo intelectual ou superior. A magia emerge do magnum opus de Agrippa como a ciência mais perfeita, por meio da qual é possível conhecer tanto a natureza quanto Deus.
Antes da versão final de 1533, o pensamento de Agrippa, refletido em De occulta philosophia, passou por várias etapas. O livro foi descrito como “um credo neoplatônico”: a influência de Ficino e Pico é evidente, mas autores menos conhecidos, como → Lazzarelli, também desempenham um papel significativo. A primeira versão – mais uma revisão enciclopédica do que um tratado – revela de maneira mais clara a profunda dependência de Agrippa em relação a seus predecessores, especialmente Reuchlin. Já o rascunho final, como apontado por Perrone Compagni, demonstra um entendimento mais maduro do assunto e de suas afirmações sobre o renascimento espiritual como necessário para a reforma religiosa. Essa reforma deveria ocorrer gradualmente: é preciso, passo a passo, desvincular-se da teologia que cega (particularmente o escolasticismo) e que oculta o verdadeiro significado das Escrituras Sagradas. Por meio da contemplação contínua das coisas divinas, a alma pode se libertar da atração dos sentidos.
Na carta dedicatória a Trithemius, Agrippa procura explicar como a magia, que os antigos filósofos consideravam a ciência mais elevada, caiu em descrédito; ele argumenta que “por uma certa corrupção dos tempos e dos homens”, muitos erros perigosos e superstições surgiram, e falsos filósofos atribuíram o título de “magia” às suas heresias e práticas malignas. Agora, torna-se necessário restaurar a magia ao seu estado original, como o tipo mais puro de religião; e do Terceiro Livro pode-se deduzir que Agrippa a concebia amplamente em termos de cabala cristã.