Toufy Fahd: Excertos traduzidos por Antonio Carneiro de «Génies, anges et démons» (LGAD)

O teólogo hanbalita Ibn Taymiyya, defensor infatigável da pureza da doutrina muçulmana, disse a propósito dos djinns (gênios): « não existe divergência entre os muçulmanos quanto às suas existências e todos os descrentes os reconhecem; pois, tal fato deriva necessariamente do que se é dito periodicamente nas histórias dos profetas que ninguém ignora. Só alguns filósofos ignorantes chegam a ponto de negar. »

Esse dogma da existência dos djinns (gênios) que repousa sobre o consenso geral e na profecia é colocado a mais com destaque por Ibn Hazm que diz: deriva do texto sagrado (naçç) que « eles formam uma nação dotada de razão e de discernimento, que eles praticam uma religião e são submetidos aos fins últimos, que engendram e morrem. Todos mulçumanos os reconhecem e até mesmo os cristãos, os zoroastrianos, os sabeanos e a maioria dos judeus, a exceção dos samaritanos. Quem quer que negue a existência dos djinns (gênios) ou dê uma interpretação que exclua a realidade exterior, é um descrente associador (discípulo de Cristo, cf. trad. francesa no Alcorão) cujo sangue e fortuna são lícitos ».

Tal afirmação tira sua força e vigor dos dados claros e evidentes do Nobre Alcorão: « E os jânn108 Nós os criamos antes (do homem) feito de fogo muito ardente (as-samûm) » (Cor. 15, 27) ou « de uma língua (mârij) de fogo » (Cor. 55, 15).

A Tradição retomou essas palavras divinas sem comentário sobre a natureza dos djinns (gênios), mas com força de detalhes sobre as relações temporais e espaciais com o homem; pois, no Nobre Alcorão e na Tradição, é estabelecido um paralelismo estreito e constante entre essas duas categorias de seres, chamados de uma só palavra, ath-thaqalân, quer dizer, os mais preciosos dentre as criaturas terrestres.

Primeiros habitantes da terra que eles povoaram abundantemente, os djinns (gênios) tinham a realeza, a profecia, a religião e a lei; mas fizeram o mal e abandonaram as recomendações de seus profetas. Deus enviou contra eles um exército de anjos que habitaram a terra e fizeram recuarem até os confins das ilhas.

Entretanto, certas partes da terra árabe foram reconquistadas pelos djinns (gênios) ou lhes foram atribuídas: Ubâr, entre Yamâma e Shihr, região inacessível aos homens, foi retomada por eles. « Quando Deus fez perecer o povo chamado Wabâr, como tinha feito perecer Tasm, Jadis, Tmlâq, Thamûd e ‘Âd, os djinns (gênios) vieram habitar seus países e defenderam contra todos aqueles que os cobiçavam; pois, era a terra a mais fértil, a mais rica em árvores, frutos suculentos, cereais, vinhas, tamareiras e bananeiras. Se, na época atual, um homem se aproximar, seja deliberadamente, seja por engano, os djinns (gênios) lhe enganarão; se recusar voltar para trás, o tornarão louco ou até mesmo o matarão. »

Na época da dispersão dos Árabes, após a ruptura do dique de Ma’rib, a tribo dos Tayy’ veio ocupar os montes Ajâ e Salmâ, onde ninguém habitava. As mais magras palmeiras estavam carregadas de tâmaras; os Tayy’itas sustentavam que naquele tempo, os djinns (gênios) fecundavam as palmeiras.

Não somente as regiões desérticas e as terras desabitadas, mas também os pequenos bosques e os bosques cerrados são dos domínios dos djinns (gênios). Esses últimos mataram duas pessoas por terem queimado um terreno arborizado e por tê-lo cultivado. Quando as chamas surgiram, se ouviu gemidos e um grande barulho; depois apareceram serpentes brancas que voavam por cima do fogo.

No advento do Islame, os djinns (gênios) pareceram usufruir de uma larga expansão. A tradição nos conserva um texto bastante curioso que faz do Profeta o arbitro incontestado entre djinns (gênios) muçulmanos e djinns (gênios) associadores: estava uma vez isolado por suas necessidades; tendo seguido com a água, Bilâl escutou discussões e palavras em uma língua que não compreendia. O Profeta lhe explicou que os djinns (gênios) muçulmanos e djinns (gênios) associadores discutiam diante dele e lhe pediram para delimitar a zona que cada um dos dois grupos devia habitar. « Fiz habitar, disse, os djinns (gênios) associadores nas terras baixas (da Tihâma) e os djinns (gênios) muçulmanos sobre os altos platôs (do Najd). »