(Hanegraaff2006)
Em 1965, Abellio publicou seu livro La Structure absolue (A Estrutura Absoluta), que pode ser considerado a chave de seu sistema filosófico. A “estrutura” em questão é parcialmente inspirada em tradições aritmológicas [→ Simbolismo dos Números] e na gematria “cabalística” [→ Influências Judaicas V], juntamente com outras influências como o I Ching, o → Tarô e a → astrologia; e também se inspira na filosofia fenomenológica de Edmund Husserl.
A estrutura é visualmente apresentada como uma esfera, semelhante em alguns aspectos à apresentada por → René Guénon em Le Symbolisme de la croix (1931), e pode ser descrita assim:
- Primeiramente, uma cruz horizontal (quatro ângulos de 90 graus).
- Depois, uma linha vertical que atravessa a cruz, passando por seu centro.
- Por fim, a cruz e a linha estão contidas dentro de uma esfera cujo centro é o ponto de interseção entre a cruz horizontal e a linha vertical.
Por consequência, a esfera possui seis polos (as quatro extremidades da cruz e as duas extremidades da linha vertical). O ponto de interseção não é propriamente um polo, mas é considerado tão importante quanto os próprios polos. Essa figura tridimensional supostamente fornece importantes insights em qualquer domínio (ciência, metafísica, filosofia, psicologia, história, etc.) e nas relações entre eles, desde que, ao utilizá-la, os polos sejam devidamente “qualificados” de acordo com o tipo de investigação que se deseja realizar (ou seja, os termos ou conceitos atribuídos a cada um dos seis polos devem ser escolhidos de maneira pertinente).
Ontologicamente, a ideia básica que fundamenta a figura pode ser resumida da seguinte forma: as duas linhas da cruz horizontal representam duas dualidades. As extremidades de uma linha correspondem, respectivamente, a nossos órgãos sensoriais e ao nosso corpo; as extremidades da outra linha da cruz correspondem, respectivamente, ao “objeto” e ao “mundo” global (o objeto se “desprendendo”, em termos husserlianos, do “mundo”). Como resultado, temos duas dualidades que estão em constante “giro” ou “movimento”; mas não apenas horizontalmente, pois também tendem constantemente a subir em direção à parte superior da linha horizontal (a “ascensão” em direção à unidade) ou a descer ao longo de sua parte inferior (descida em direção à multiplicidade). Quanto ao centro da esfera, ele representa o “Eu transcendental”.
Abellio afirma que essa estrutura é “absoluta” porque ele a considera aplicável – no contexto de uma doutrina de “interdependência universal” ou correspondências universais – a todas as áreas da realidade, incluindo até mesmo a história. Supõe-se que ela revela a “história invisível” ou “metahistória” das civilizações, interligadas com a psicologia, política, física, biologia, etc., bem como o Eu transcendental do ser humano.
Dois elementos principais distinguem a estrutura absoluta abelliana do esquema husserliano:
- O fato de ele considerar sua noção de “interdependência” e “intersubjetividade” como ponto de partida da experiência gnóstica a ser alcançada, e não como seu fim.
- Sua noção de “dialética intensificadora”, pela qual ele entende o movimento dinâmico a ser atribuído à esfera, sendo compreendido que, como já mencionado, seus polos tenham sido devidamente “qualificados”.