Costuma traduzir-se este termo por “ausência de inquietação”, “tranquilidade da alma” e “imperturbabilidade”. Demócrito foi talvez o primeiro a usar o termo, mas foram os epicuristas, os estoicos e os cépticos que o colocaram no centro da sua doutrina. Segundo Epicuro, a felicidade obtém-se mediante a ausência de pena ou de dor, pela ataraxia. Gozam delas os Deuses, que não se ocupam nem do governo do cosmos nem dos assuntos humanos. ataraxia é, para Epicuro, um equilíbrio permanente na alma e no corpo. Para obter a felicidade há que ater-se à ataraxia mas também à já mencionada ausência de pena, à ausência de temor e à apatia ou ausência de paixões. Todas elas constituem a liberdade. A ataraxia é, para Pirro, o culminar da suspensão do juízo. Há que praticar esta para alcançar aquela, o que só pode fazer um homem capaz de viver sem transferências. Em contrapartida, Arcesilau considerou a ataraxia como sintoma da suspensão do juízo e não como o seu coroamento. A noção de ataraxia funda-se nos mesmos supostos e suscita os mesmos problemas que as noções afins usadas pelos filósofos mencionados. Funda-se na divisão, elaborada sobretudo pelos estoicos, entre o que está em nosso poder e aquilo que é exterior a nós, e na suposição que o último inclui as “paixões”; na confiança de que o homem como ser racional (ou pelo menos os filósofos como homens eminentemente racionais) é capaz de conseguir a eliminação das perturbações; e na ideia de que a tranquilidade é, pelo menos moralmente, melhor do que a experiência. Os problemas que suscita baseiam-se sobretudo na definição excessivamente negativa da liberdade em que desemboca e na escassa clareza e desejabilidade dos supostos. (DFW)