O primeiro reino de Borgonha foi criado no século V nos vales do Saona e do Ródano pelos burgúndios, um povo germânico cuja pátria tradicional situava-se às margens do Báltico e na ilha de Bornholm. As lendas sobre a movimentação deles através do continente e de seus conflitos com os hunos nos anos caóticos de meados do século V, constituem a base do maior poema épico alemão da Idade Média Central: a Canção dos Nibelungos. Historicamente, eles ficaram sob o domínio dos francos no início do século VI, embora preservando certa identidade legal e étnica.

Com a desintegração do Império Carolíngio no século IX, surgiram duas unidades políticas: o reino do Borgonha, que passou depois de 1032 para mãos imperiais, e o ducado de Borgonha, o qual se tornou parte do reino da França e era governado por um ramo secundário dos capetos (1031-1361). O reino formava um tampão entre a França e a Itália, e consistia essencialmente no vale inferior do Ródano e territórios para leste, incluindo Lyon, Vienne, Aries e o condado da Provença até o Mediterrâneo. O ducado localizava-se a leste de Saona, com importantes centros em Dijon e Autun, e causou o maior impacto sobre a civilização medieval através de sua vida monástica nos séculos XI e XII; fortemente influenciado por Cluny, foi ainda a pátria de Vézelay e Cîteaux (Cister).

A situação territorial foi ainda mais complicada no século XII pelo surgimento de uma Borgonha Cisjurana virtualmente independente (depois de 1127), no início governada pelos condes de Mâcon, o chamado Franco-Condado, Besançon e as terras férteis entre o curso setentrional do Saona e o Doubs. No século XIV, o ducado e o condado uniram-se (1384) quando Filipe, o Calvo, duque de Borgonha, casou com Margarida de Flandres, herdeira do Franco-Condado, iniciando assim um século de grandeza borgonhesa. Os duques buscaram os ingleses como aliados em seus esforços para evitar o controle francês e, sob Filipe, o Bom (1419-67), e Carlos, o Temerário (1467-77), criaram uma poderosa unidade política ao longo da chamada “linha crítica” da Europa ocidental, dividindo franceses e alemães. Uma ampla renovação da erudição, da arte, da literatura e da civilização teve lugar nessa Borgonha alargada do século XV. (DIM)