Em diversas religiões primitivas, a decapitação derivava de um ritual e de uma crença: a cabeça é a sede do espírito. Há que preservá-la ou destruí-la, segundo ela pertença a amigo ou inimigo.
Os celtas, tanto na Irlanda quanto no continente, cortavam a cabeça ao inimigo vencido em combate singular. Esse costume tem base religiosa, uma vez que, segundo o deus-médico, Diancecht, a ressurreição ou a cura são sempre possíveis desde que os órgãos essenciais (cérebro, medula, membranas do cérebro) não tenham sido afetados. As cabeças decepadas eram conservadas como troféus de guerra e sofriam um tratamento para esse fim. Podia-se também conservar apenas uma parte. Um texto irlandês fala da língua, outro menciona um cérebro misturado com argila e modelado como bola de jogar. Tito Lívio conta que o crânio do cônsul Postumius, derrotado pelos gauleses cisalpinos, foi levado com grande pompa para o seu templo principal, onde, guarnecido de metal precioso, serviu de cálice no culto.
Esses costumes são encontrados, comprovadamente, em todas as partes do mundo, desde as famosas tsantsa, ou cabeças reduzidas, dos índios Jivaro do Equador até os crânios modelados da Oceania. Os Bamun dos Camarões degolavam os inimigos mortos em combate e conservavam deles apenas os maxilares inferiores. Esses troféus eram empregados de diversas maneiras. Serviam, inclusive, para ornamentar o gargalo das cabaças cerimoniais em que se servia vinho de palmeira na corte de Foumban. (DS)