Marcel, Gabriel (1889-1973)
Filósofo, ensaísta e dramaturgo francês. Classificado geralmente — sobretudo por Sartre — como existencialista católico, Marcel seguiu o seu próprio caminho e não pode ser tratado como membro de uma determinada escola. Em 1950, rechaçou o rótulo de “existencialismo cristão”, propondo para seu pensamento a qualificação de “socratismo cristão”.
Diversas análises e estudos sobre seu pensamento filosófico o consideram desconcertante. Em certos aspectos, seu pensamento produz a impressão de ser muito realista, próprio para andar pela terra. Outros se sentem tentados a considerar sua filosofia como uma espécie de poesia ou como meditações personalíssimas, e não como o que geralmente se costuma entender por filosofia.
“Sua filosofia pretende chamar a atenção sobre o significado metafísico que se oculta no familiar, sobre os indicadores do eterno que há nas relações interpessoais, às quais lhe atribui um valor positivo, e sobretudo uma presença que o invade e unifica tudo. Sua filosofia gira em torno das relações interpessoais — eu-tu-nós — e da relação com Deus. Mas nossa forma de enfocar as coisas está tão condicionada por esse ‘mundo’ que somos incapazes de discernir as dimensões metafísicas da existência ou, pelo menos, isso é extremamente difícil para nós”.
— Para Marcel, a existência de Deus não é uma conclusão resolutoria de um problema. A fé não é questão de crer o que, mas de crer em. Deus é o tu absoluto, a presença absoluta e misteriosa. Mas há diversos modos de se orientar em direção à presença absoluta: o homem pode abrir-se para esta presença — Deus — mediante as relações intra-subjetivas, tais como o amor e a fidelidade criadora, que são sustentados por Deus e para ele apontam; ou pode também encontrar Deus no culto e na prece, invocando-o e respondendo a seu chamado. Os diversos modos não são, logicamente, exclusivos. São caminhos para chegar a experimentar a divina presença…
— Os conceitos de “mistério”, “problema”, “presença”, “disponibilidade”, “mundo rompido”, “ser versus ter”, são fundamentais no pensamento de Marcel.
— “Para Marcel, termina dizendo Copleston, nosso mundo está essencialmente rompido. E em nossa civilização parece revelar uma crescente despersonalização. Em qualquer caso, a ideia de que o mundo marcha, inevitavelmente, cada vez melhor não é certamente sua. A coletivização e o grande desenvolvimento tecnológico de nossa sociedade pareciam-lhe expressões de um espírito prometeico que repudia Deus. Marcel acredita firmemente no triunfo escatológico da bondade, e admite que com base religiosa, isto é, à luz da fé, pode-se manter uma atitude otimista. Mas está convencido de que a invocação e o repúdio foram sempre duas possibilidades para o homem e assim continuarão. E pensa que o dogma do progresso é um “postulado completamente arbitrário” (Copleston, Historia de la filosofia, 9, 314324).
Sua obra filosófica é muito extensa. Inicia-se em 1914 com Existência e objetividade; segue-lhe Diário metafísico (1914-1923); Ser e ter (1918-1933); Da rejeição à invocação (1940); Homo viator (1944) etc.
Outra das características de Marcel são suas obras de teatro, nas quais põe em cena teses psicológicas e morais. Foi também um excelente crítico teatral de “Nouvelles littéraires”.
BIBLIOGRAFIA: Ni. Bernard, La Philosophie religieuse de Gabriel Marcel. Etude critique, 1952; Obras: Diário metafísico; Filosofia concreta; Prolegôomenos para uma metafísica da esperança; O mistério do ser; Os homens contra o humano; Decadência da sabedoria; O homem problemático. (Santidrián)