homem neolítico

Quanto ao terceiro descobrimento, poderíamos caracterizá-lo como «o descobrimento do homem neolítico». Pouco antes de minha partida tive a sorte de passar algumas semanas na Índia central, com ocasião de… uma espécie de caçada de crocodilos, entre os aborígenes, os santali, que são pré-ários. Fiquei impressionado ao comprovar que a Índia tem ainda umas raízes muito profundas que se afundam, não só na herança ária, ou dravídica, mas também, no chão asiático, na cultura aborígine. Era aquela uma civilização neolítica, apoiada na agricultura, quer dizer, na religião e na cultura que acompanharam ao descobrimento da agricultura, concretamente, a visão do mundo e da natureza, assim como o círculo ininterrupto da vida, da morte e da ressurreição, ciclo específico da vegetação, mas que rege também a vida humana e constitui, ao mesmo tempo, um modelo para a vida espiritual… Deste modo cheguei a entender a importância da cultura popular romena e balcânica. Igualmente à cultura da Índia, também trata-se de uma cultura folclórica, apoiada no mistério da agricultura. Evidentemente, na Europa oriental há umas expressões cristãs; por exemplo, supõe-se que o trigo nasceu das gotas do sangue de Cristo. Todavia, todos estes símbolos, têm um fundo muito arcaico, neolítico. Com efeito, ainda há trinta anos existia da China à Portugal uma unidade de base, a unidade solidária da agricultura, que tinha na agricultura seu respaldo seguro e que se apoiava, por conseguinte, no legado do Neolítico. Esta unidade de cultura foi para mim uma revelação. Descobri que aqui, mesmo na Europa, as raízes são mais profundas do que nós acreditávamos, mais profundas que o mundo grego, ou romano, ou inclusive mediterrâneo, mais profundas que o mundo do Próximo Oriente antigo. E estas raízes nos revelam a unidade fundamental não só da Europa, mas também de toda a oikoumene que se estende de Portugal até a China, desde a Escandinávia até o Ceilão. (Mircea Eliade)