Apoiando-se nos trabalhos de Jung, de Piaget e de Bachelard, Gilbert Durand fundamenta, sobre a própria estrutura da imaginação, esse dinamismo organizador (…) fator de homogeneidade na representação. Ao invés de estar apta a formar imagens, a imaginação é uma potência dinâmica que deforma as cópias pragmáticas fornecidas peta percepção, e esse dinamismo reformador das sensações torna-se o fundamento de toda a vida psíquica. Pode-se dizer que o símbolo… possui algo mais que um sentido artificialmente dado, detendo um essencial e espontâneo poder de ressonância. Em Poétique de l’espace (poética do espaço), G. Bachelard dá maior precisão a esse ponto: a ressonância convida-nos a um aprofundamento da nossa própria existência… Produz uma reviravolta no existir. O símbolo é verdadeiramente inovador. Não se contenta em provocar ressonâncias e convida a uma transformação em profundidade… (DS)
No aristotelismo, esta faculdade desempenha um dúplice papel. Em primeiro lugar, recebe e conserva as impressões sensíveis que lhe são transmitidas pelo “sensus communis” e, a esse título, é uma espécie de memória; em segundo lugar reproduz, na ausência do objeto exterior, as impressões.
Em razão desta dupla atividade, a imaginação não pode ser reduzida a nenhum dos sentidos vistos aqui, nem mesmo ao “sensus communis”, que não conserva e, portanto, não pode reproduzir as imagens. Tais funções são, para Tomás de Aquino, completamente originais e uma pura faculdade receptora é impotente para praticá-las. Por outro lado, deve-se distinguir a imaginação dos outros sentidos internos: da estimativa que, como veremos, considera certas relações abstratas que não são percebidas pelos sentidos; da memória que implica sempre referência ao passado, estranha, também ela, ao simples dado dos sentidos.
A atividade da imaginação. Os psicólogos modernos desenvolveram consideravelmente o estudo das diversas atividades desta faculdade, esforçando-se por determinar, com toda precisão possível, as leis de revivescência, de associação, de modificação das imagens, etc. Não se encontra nada de semelhante nos estudos dos antigos. Estes, todavia, tinham perfeitamente tomado consciência do papel capital desempenhado na vida psíquica pela imaginação. Para eles, a imaginação está na base da vida passional. É também a faculdade dos sonhos e é por suas ilusões que o erro penetra no espírito. Acrescentemos que as análises feitas posteriormente em nada contradizem a estas observações primeiras, e seus resultados vêm perfeitamente tomar lugar nos quadros que elas determinam. (Gardeil)
«Ter imaginação» é gozar de uma riqueza interior, de um fluxo ininterrupto e espontâneo de imagens. Mas espontaneidade não significa invenção arbitrária. Etimologicamente, «imaginação» é solidária com imago, «representação, imitação» e com imitor, «imitar, reproduzir». Desta vez a etimologia faz eco tanto das realidades psicológicas como da verdade espiritual. A imaginação imita modelos exemplares – as Imagens – reprodu-las, reatualiza-as, repete-as sem fim. Ter imaginação, é ver o mundo na sua totalidade; pois o poder e a missão das imagens consistem em mostrar tudo o que permanece refratário ao conceito. Assim se explica a desgraça e a ruína do homem que «não tem imaginação»: ele está isolado da realidade profunda da vida e da sua própria alma. (Eliade)