As pretensões do Papado, o bispado de Roma, à chefia suprema da Igreja Católica estão profundamente enraizadas na crença em que o bispo de Roma é o sucessor de São Pedro, o principal dos Apóstolos, a quem o Cristo teria confiado o governo de Sua Igreja na terra. O trocadilho implícito no texto super hanc petram (sobre esta pedra fundei a minha igreja) teria muita força na Idade Média, quando a configuração política do mundo mediterrâneo serviu para incrementar a autoridade papal. Havia cinco patriarcados na Igreja primitiva, e quatro deles (Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria) permaneceram na órbita dos mundos bizantino e muçulmano. Somente Roma sobreviveu no Ocidente, e o prestígio da antiga capital foi transmitido à sociedade medieval pelo bispo de Roma, herdeiro das tradições imperiais e cristãs. O papel desempenhado pelo papa Leão I ao persuadir Átila a deixar a Itália no começo da década de 450 passou para o domínio da lenda.
Foi São Gregório Magno quem estabeleceu firmemente a primazia do Papado, sobretudo em questões legais. Sua proteção do povo romano, seu constante encorajamento e exortação a outros bispos e arcebispos no Ocidente, e o início da conversão dos ingleses, alicerçaram a esfera efetiva de autoridade do Papado medieval. Os perigos de que o Papado degenerasse em mero episcopado lombardo foram superados no século VIII pela intervenção dos francos; e a coroação de Carlos Magno como imperador pelo papa Leão III, em Roma, no dia de Natal de 800, simbolizou o novo quadro político do mundo ocidental. Reivindicações teóricas de primazia continuaram sendo comuns nos séculos seguintes, especialmente no pontificado de Nicolau I (858-67), embora na maioria dos casos os imperadores teocráticos das dinastias Carolíngia e Otoniana tendessem a ser dominantes.
A grande crise do século XI, conhecida como Questão das Investiduras, provocou dramática mudança. Sob a direção do imperador Henrique III, o Papado pôde libertar-se do controle exercido sobre ele pelas facções aristocráticas de Roma. Durante a menoridade de seu filho Henrique IV (1056-1106), o Papado encontrou um aliado nos normandos do sul da Itália para contrabalançar o poderio militar alemão. A afirmação dos princípios de eleição cardinalícia deu equilíbrio à sua própria posição constitucional interna. O papa Gregório VII (Hildebrando), no decorrer de seu turbulento pontificado, colocou o Papado reformado em novo e dinâmico rumo. Humilhou Henrique IV, forçando-o à submissão em Canossa. Por sua intensa atividade no seio da Igreja e em relação aos governantes seculares da Europa, ele colocou o Papado na posição centralizada e centralizadora de força que iria conservar ao longo dos dois séculos seguintes. O papa Urbano II pregou a Primeira Cruzada em 1095, e o século XII viu a influência e o poder papais aproximarem-se de seu auge. Um século depois de Canossa, o imperador Frederico Barba-Ruiva submeteu-se ao papa Alexandre III em Veneza (1177), e o papa Inocêncio III levou o Papado ao apogeu, influenciando eleições imperiais, atuando como árbitro universal no Ocidente, encorajando as Cruzadas e a ação contra os hereges, e colocando-se na vanguarda do movimento em prol da reforma moral no grande Quarto Concílio de Latrão, realizado em 1215.
O próprio êxito do Papado acarretou sérias complicações; o envolvimento excessivo na política e nas finanças gerou ressentimento. O papa Bonifácio VIII formulou pretensões extremas de supremacia na bula Unam Sanctam durante as celebrações do jubileu de 1300, mas sua humilhação por agentes do monarca francês em Agnani, em 1303, mostrou onde estava, de fato, o verdadeiro poder. O exílio em Avignon (1309-78) e o Grande Cisma entre Roma e Avignon (1378-1417) dominaram a política papal no final da Idade Média. O conflito foi resolvido com a eleição de Martinho V no Concílio de Constança em 1417, mas a reforma foi deixada (com apenas moderado êxito) nas mãos dos novos papas e, em fins do século XV, os papas ostentavam muitos dos atributos de autênticos príncipes da Renascença. Ver movimento conciliar; Decretais Forjadas; Doação de Constantino; Gelasiana, doutrina; indulgências; Inquisição; Questão das Investiduras; ver também concílios e papas individualmente registrados (DIM)