Pierre Gordon: IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
As mais antigas descrições fornecidas da residência dos mortos são rigorosamente exatas, no sentido que se referem ao mundo subterrâneo dos viventes. O comportamento dos falecidos, e os avisos que lhe dá o Livro dos Mortos correspondem em todos os pontos às démarches dos viventes em curso de iniciação e às diretivas que aqueles deviam seguir para alcançar a meta. Os defuntos, em outros termos, eram assimilados aos neófitos que, para ganhar a estadia da vida eterna, se empenhavam às mesmas provações. Nada é imaginário. Textos em uma primeira abordagem estúpidos irradiam sentido quando não se perde o ponto de vista desta identificação. Como, além do mais, existia dois grandes centros iniciáticos, o livro dos Mortos conduz em primeiro lugar o falecido para o mais recente, quer dizer aquele que se situava na região do Cáucaso. Em seguida o morto sobe para o noroeste e, depois da travessia da água, chega na Ilha Santa, junto a Osiris, que o julga. A majestosa sala de julgamento é sem dúvida um local a beira do Nilo (o que confirma um relato egípcio, a História Verídica de Salno-khamois e de seu filho Senosiris, que nos mostra as sete imensas salas do país dos mortos, nas montanha de Memphis). Alcança-se então, depois de uma volta pela Grande Montanha e a Ilha Sagrada, algum mundo subterrâneo indígena (talvez o famoso Labirinto do lago Moeris). O Julgamento dos Mortos ele mesmo é certamente autêntico; corresponde à alta personalidade que, nos grandes centros de iniciação, admitia os noviços à dignidade de deus. Encontram-se inúmeros relatos que se referem a três juízes «infernais», que refletem no universo de sob-a-terra, a tríade Poseidon-Hades-Zeus ou Japhet-Cham-Sem.