Lua Cheia

LUA CHEIA — CABEÇA-LUA

Excertos de René-André Lombard, “L’ENFANT DE LA NUIT D’ORAGE”. Tradução e notas explicativas de Antonio Carneiro
A CABEÇA REDONDA DO FELINO[[NT: Em francês Fauve se refere em sentido amplo aos Mamíferos carnívoros, e em particular dos médios aos grandes felinos. Esse termo é igualmente empregado para distinguir os grandes felinos — grand fauves — do gato doméstico e dos outros pequenos felinos.]] DA TEMPESTADE[[NT: Em francês “Têmpete” talvez referência à peça do dramaturgo Skakespeare TEMPESTADE de igual nome. Jean Haudry vê no relato de Belerofonte (Bellérophon) e de seu castigo um antigo mito lunar espalhado no domínio indo-europeu, onde a Lua, esposa volúvel e perjura, abandona seu esposo o Sol. Lua (Bellérophon) recusa-se a se unir ao Sol (Anteia ou Sthénébée segundo os relatos). Anteia se queixa à Proitos, mas o castigo não surte efeito. Como Yama, Bellérophon é punido uma segunda vez e «é condenado a errar solitário como Lua, como Yima privado de seu poder e de seus três carismas».]]

Os líquidos vitais obedecem a ciclos. Eles se inflam e se expandem, se amenizam e se concentram periodicamente: a massa gigantesca do Oceano faz uma demonstração, a mais espetacular, com suas enormes marés, assim como faz o sangue no corpo das mulheres, a seiva na carne dos vegetais. O poder que comanda o ritmo que se revela com evidência em suas metamorfoses «mensais» é a Lua. A importância capital dos fenômenos lunares, resultado de conhecimentos exatos e superstições, misturadas no pensamento humano, ainda não foi suficientemente demonstrada, apesar de tantos livros escritos. Para o que permanece da época clássica grega, ver: Claire Préaux, “La Lune dans la pensée grecque” (Bibl., Royale, Bruxelles).

A Lua é, então, toda e naturalmente soberana dos Líquidos vitais, Água, Sangue, Lava[[NT:Em francês “Lave” se refere a Lava, derivada do latim “labes”: 1. Queda, ruína; 2. Estrago, flagelo, calamidade, destruição, doença, enfermidade, peste, pessoa funesta, geralmente identificado com 2. Por sua vez, “labes” é derivada do verbo “dic-fr:Labor” de significados vários que não será aqui escrito, para mais dados ver em francês a etimologia.]], Seiva. Da sua trajetória aérea, comanda o humor da atmosfera e a torna, ou não, fecunda e favorável a esses minúsculos humanos submissos às intempéries. Nem a Tempestade escapa de seu poder.

Ora, o fato mais inquietante é que em sua perfeição de Lua Cheia[[SW.L.N : Selene/Helena para os gregos]], desenha uma cabeça. Uma cabeça sem corpo, redonda, com olhos estufados colocados no alto, nariz curto e achatado, grande boca aberta e com a língua estirada para fora. Percebe-se sem dificuldade aqui a importância que vai tomar a imagem mítica da Cabeça cortada mágica[[NT: Referência para “Cabeça mágica dos Templários”. Vide: “La Tête magique des Templiers, Salomon Reinach, E. Leroux, 1910, 15 p.” Resenha em: “Origine de la légende qui attribue aux Templiers une idole en forme de tête humaine”; Reinach, Salomon; Comptes-rendus des séances de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres ; 1910; volume 54; numéro 6, p. 491]], Cabeça branca, luminosa sobre o profundo da noite, e todos os ritos de decapitação[[NT: Decapitação de João Batista.]] que podem se inspirar nisso.

Mas Cabeça Humana ou Cabeça animal? E Cabeça de macho ou Cabeça de fêmea? Sobre este assunto as interpretações variaram durante épocas e lugares, como se podia esperar. Existiram deuses Lua e deusas Lua segundo as estruturas sociais dos grupos humanos e o emprego do masculino e do feminino nas diferentes línguas para «a» designar, é o último testemunho dessas divergências.

De acordo com o espírito animalista que se revela no conjunto da arte pré-histórica, parece que a imagem da Cabeça de Felino fêmea, com as orelhas caídas ou pequenas e redondas, foram impostas muito tempo e em numerosas culturas, para interpretar a Lua Cheia, paralelamente à Cabeça de Pássaro com bico curvo para interpretar a Nova Lua crescente.
Figura rupestre de Gabillou

Perenialistas – Referências