Mana [DagliRW]

Caner K. Dagli: THE RINGS OF WISDOM

Geralmente mana é o oposto de surah, ou forma. Chittick comenta, «… o termo forma normalmente traz à mente uma segunda realidade que a forma manifesta. X é a forma de Y. Esta segunda realidade é frequentemente chamada o “significado” (mana) da forma». Chittick verteu como «significado suprassensível» ou «realidade suprassensível» quando não denota simplesmente «significado». Como um termo técnico uma significado é uma essência que não tem dimensão espaço-temporal em si mesma. É uma entidade sem forma no sentido que em si mesma não se estende nem estaticamente (no espaço) nem dinamicamente (no tempo). Uma forma, quando considerada em oposição a significado, é uma essência que efetivamente possui dimensões espaço-temporais. Por exemplo, a misericórdia não é uma qualidade sensorial, embora se manifeste em uma mãe através de seu comportamento para com seu filho. Nenhuma parte da configuração física da mãe é misericórdia, nem qualquer de suas ações elas mesmas são misericórdia; misericórdia é um significado que é expressado através destas entidades formais. É correto pensar do significado como o espírito da forma. É este algo sem forma que é a realidade interior da forma exterior. No mundo de formas estes significados só podem aparecer em forma. Não há formas que não são formas de algum significado: os dois vão juntos como dedo e unha. Esta concepção não deve ser confundida com o hilemorfismo aristotélico, no qual a forma é uma essência que se atualiza como potencialidade na matéria. Forma e significado são ambos atualidades; ambos, forma e significado de uma coisa, têm uma essência real ou o-que-é, diferentemente a forma e matéria aristotélicas onde a matéria representa somente a potencialidade para a existência de uma forma. Tomando por exemplo as cores, podemos dizer que o verde tem um forma, mas o verde também significa algo. Porta algo que está dentro do objeto de nossa vista, mas que toca nossa alma e não nosso olho. Há um verde que podemos indicar e um verde que não podemos. O primeiro é a forma (essência formal), o segundo o significado (essência informal). O uso de «significado» é estranho a princípio mas de fato muito profundo, porque evoca o simbolismo da fala que é tão importante nos escritos sufis. Quando falamos um sentença, essa sentença tem um forma e um significado. Deus está sempre falando o universo, e este nos aparece como formas e significados, separados no entanto inseparáveis. Quando uma forma manifesta, Deus significa algo por esta forma, e quando Deus significa algo Ele o manifesta em forma.

A palavra mana pode também ser usada para se referir às faculdades interiores do homem como opostas a suas faculdades exteriores. Uma escuta do «significado» é a dimensão do Coração que forma o princípio de nossa escuta sensorial. É uma escuta espiritual. Frequentemente quando Ibn Arabi fala de algo ocorrendo «em significando» quer dizer que ocorre na alma como oposta a manifestação exterior. O significado é a realidade interior em operação exteriormente, o sem forma na forma, o oculto no aparente.

Bem adiante nos Fusus, Ibn Arabi alude à distinção entre a escuta sensória e a escuta no reino do significado. A última é o princípio não corporal da primeira. Significado é sempre interior em relação ao sensorial, que é exterior. Considerado na primeira maneira, um significado é uma coisa abstraída de coisas e existe integralmente na mente, enquanto no último caso um significado é uma realidade concreta que é estabelecida em oposição à forma. Forma e significado intertecem e juntamente compreendem os objetos do mundo e portanto os objetos de nosso conhecimento.

Caner K. Dagli