UM MANUSCRITO DE MOBY DICK
A mudança na forma das palavras da nota para o romance é de extrema significação. Não é por economia de frase. A remoção do Cristo e do Espírito Santo ─ “Filli et Spiritus Sancti” ─ é um ato mecânico espelhando o imaginativo. Por necessidade, do mundo de Acab, ambos, o Cristo e o Espírito Santo, estão ausentes. Acab se move e tem seu ser em um mundo para o qual Eles e o que Eles importam são hostis: lembre, Acab lutou uma rixa mortal com um espanhol diante do altar em Santa, e cuspiu dentro da cuia de prata.1 O conflito no mundo de Acab é abrupto, mais que entre Satã e Jeová, mais da Antiga Providência que da Nova. É o símbolo do mundo externo da verdade interior que o nome de Cristo2 é pronunciado, apenas uma vez no livro e, assim mesmo, arrancado de Starbuck, o único homem possível de fazer uso dele, em um momento de angústia, a noite antes do fatal terceiro dia da caçada.
Acab é um invocador de demônios. Invoca seu próprio mundo do mal. Ele próprio usa magia negra para alcançar seus fins vingativos. Com as exatas palavras “in nomine diaboli”, está convencido que lança um sortilégio e executa um Ritual de tal magia.3
O mundo de Acab está mais próximo a “Macbeth” que para “Lear”. Neste o sobrenatural é aceito. Fedalah aparece gratuitamente como as ParcasParcas4. Antes mesmo que Acab tivesse feito sua primeira aparição, ele se identifica com o mal, o que Macbeth não faz senão no decorrer de sua peça, sob a influência do medo. Os gênios do mal dispensam a Acab como a Macbeth uma segurança enganosa, graça a um ardil idêntico: a profecia não realizável. O falar tenso e nervoso de Acab se parece àquele de “Macbeth” mais que ao de “Lear”. “Macbeth” e Acab tem em igualdade o mesmo inferno de sonhos criminosos, destruidores do sono. Todos dois universos maléficos se correspondem exatamente. Tanto em um quanto em outro, o divino tem muito pouco lugar. Melville certas exclusões, o Cristo e o Espírito Santo estão entre elas. Infelizmente! Acab não podia batizar mesmo em nome do Pai! Só podia fazer em nome do Demônio.
capítulo XIX, “…nothing about that deadly skrimmage with the Spaniard afore the altar in Santa? — heard nothing about that, eh? Nothing about the silver calabash he spat into?”. ↩
Vide início do texto de “Augustine’s symbolic theories of ritual: Holy Signs and Demonic Contracts” do artigo disponível na internet de Olivier Dufault, in: “Magic and Religion in Augustine and Iamblicus” ↩
Vide no segundo parágrafo e nos seguintes do texto de “Augustine’s symbolic theories of ritual: Holy Signs and Demonic Contracts”, do artigo disponível na internet de Olivier Dufault, In: “Magic and Religion in Augustine and Iamblicus”. ↩
No texto “” ↩