Índice
Arnaud Desjardins
Se acreditarmos no próprio vedanta hindu, o termo mais importante no Caminho do despertar é a palavra “Libertação”, que traduz tanto o sânscrito moksha quanto mukti. Certos textos o traduzem por “emancipação”; por que não? Como a meta suprema proposta aos seres humanos é urna certa “Libertação”, você pode se perguntar de que libertação se trata. O que é que deve ser liberto, e de que prisão ou de que servidão? É fácil ouvir a palavra “libertação” ou tomar conhecimento de que os Sábios, na índia, são chamados de jivan-mukta, “libertos nesta vida”. É um pouco mais difícil constatar por si mesmo e para si mesmo de que libertação se trata precisamente.
Com certeza você vai responder: da minha libertação. Mas, e daí? Você, quem? E liberto de que escravidão? Há uma abordagem psicológica dessa questão, é a que leva você a ver cada vez melhor todos os seus condicionamentos. Mas Swâmiji (Swâmi Prajnanpad) também nos propõe uma definição de Libertação mais original, e que nos introduz no cerne da abordagem hindu da Verdade: “To get rid of all matter, both gross and fine, is the essence of the quest”. Esses termos são eloquentes: “Livrar-se de toda matéria, tanto sutil quanto grosseira, é a essência da busca”. Ou, se preferir: “Ser liberto é estar livre de toda matéria, grosseira ou sutil”. O que é uma matéria sutil? Qual a diferença entre uma matéria grosseira e uma matéria sutil? Em que consiste minha servidão à matéria, seja ela grosseira ou sutil, e como posso ficar livre dela? Se quisermos especificar essa definição, podemos dizer (mas talvez não venha a ficar muito mais claro para você): “estar livre de toda identificação com a matéria grosseira ou sutil”.
Heinrich Zimmer
Filosofias da Índia
Moksa, apavarga, nirvrtti ou nivrtti, a última das quatro metas, é a redenção ou liberação espiritual. É considerada como a finalidade última, o bem humano definitivo, de modo que está acima e em posição inversa às três anteriores.
Moksa deriva da raiz muc-: “desatar, livrar, soltar, libertar, liberar, deixar em liberdade, sair de, abandonar, largar”, significando portanto “liberação, escape, liberdade, libertação, livramento, resgate; emancipação final da alma”.
… a importância dada pelas filosofias ascéticas ao ideal e fim supremo do moksa, e a consequente vastidão literária a respeito, levam o estudante do Ocidente a uma visão extremamente unilateral da civilização indiana. A verdadeira força de um ideal não pode ser compreendida fora de seu contexto, e esse contexto é a Índia tradicional, não a moderna civilização industrial. Moksa é uma força que tem impregnado cada traço, característica e disciplina da vida indiana e que modelou toda sua escala de valores. Deve ser entendido não como uma refutação mas como o coroamento final do êxito do homem triunfante. Em síntese: a maior parte da filosofia indiana propriamente dita diz respeito à orientação do indivíduo durante a segunda etapa de sua vida; não antes, mas depois que tenha cumprido os compromissos com o mundo decorrentes da vida pessoal. Uma vez cumpridos seus deveres como membro moral e sustentador da família e da comunidade, é que se volta à tarefa final da aventura humana.
… Moksa aponta para além das estrelas, não para a viela do povoado. Moksa é a metafísica posta em prática. Seu objetivo não é assentar os alicerces das ciências, desenvolver uma sólida teoria de conhecimento ou controlar e aperfeiçoar os métodos para abordar cientificamente o espetáculo da natureza e os documentos da história humana, mas para rasgar o véu do tangível. Moksa é uma técnica para transcender os sentidos a fim de descobrir, conhecer e permanecer identificado com a realidade atemporal que subjaz no sonho da vida no mundo. O sábio conhece e interpreta a natureza e o homem enquanto visíveis, tangíveis e susceptíveis de experiência, mas apenas para ir além deles rumo ao bem metafísico supremo. [Zimmer]
Pierre Gordon
IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
A liberação não visa somente a vida atual. Ela se propõe antes de tudo a arrancar o homem de toda uma série de vidas e de mortes: senão, a detenção espaço-temporal arrisca de se exercer sem fim. Exceção feita para esta divergência teórica, a técnica da moksha se identifica exatamente à distante ascese do mundo subterrâneo. Os métodos de «ressurreição» permanecem os mesmos, se admita ou não a multiplicidade de existências. Repitamos mais uma vez que o tempo humano e a maya não tendo substância, a realidade das coisas permanece idêntica se se condensa o desenrolar dos mecanismos em um minuto e em um átomo, ou se se estende em milhares de vidas, séculos e universos. A Índia multiplicou existências como ela elaborou com os Kalpas: isso não toca em nada às relações fundamentais entre a energia radiante e os cosmos físico.
Ananda Coomaraswamy
MARIONETES
La liberación consiste precisamente en una liberación de estas alternativas, de estos «pares de opuestos». La con-ducta act-iva del hombre volitivo (cf. gr. synago, agoge, sánscrito samaj, samaja, √ aj, ago, latín ago, de donde «acto») no es nada más que un comportamiento instintivo y pasivo; (por una de las «coincidencias» de la etimología sánscrita, a-ja significa «innacido»: y el Movedor de todas las cosas es aja en ambos sentidos); conducirse uno mismo es «ser en acto», comportarse es «ser in potentia»; la conducta es con-sider-ada, el comportamiento inconsiderado —es decir, la primera está de acuerdo con la moción ordenada de las estrellas (latín sider), mientras que el comportamiento es excéntrico. La distinción es paralela a la que hay entre synnoia y paranoia, y a la del sánscrito svaraj (autonomía) y anyaraj (heteronomía) según se expresa en Chandogya Upanishad VII.25.2, cf VIII.1.5.6.