UPANIXADES — MUNDAKA UPANIXADE
Retirado da tese de doutorado de Selma de Vieira Velho, A Influência da Mitologia Hindu na Literatura Portuguesa dos Séculos XVI e XVII.
Considerado como um dos mais poéticos dos Upanixades, o Mundaka Upanixade sublinha a necessidade de haver mais austeridades e menos sacrifícios e trabalhos na vida. Expõe-se duas variedades da sabedoria — a superior e a inferior. Identifica-se a verdade com o conhecimento de Deus e dá-se-lhe a supremacia sobre os sacrifícios, as obras, e o trabalho.
Angiras, o sábio, falou:
-‘Há duas espécies de sabedorias a conhecer — dizem os que conhecem Brahman — a mais alta (PARA) e a mais baixa (APARA). Dessas, a mais baixa é constituída da Rig-Veda, Yajur Veda, Sama-Veda e Atharva-Veda, do cântico do ritual, da gramática, da interpretação etimologia, da métrica e da astronomia. A mais alta é aquela pela qual se alcança o Imperecível — aquele que é invisível, incontrolável, sem família, sem casta, sem vista ou audição, sem mãos ou pés, eterno, predominante, omnipotente, sutilíssimo, imperecível e a fonte de todos os seres, dizem os sábios.”
A insistência aqui é na justiça e na verdade que é colocada acima dos ritualismos religiosos, pois afirma-se que os intelectos espantados pelas trevas colocam as oblatas e o poço dos rituais acima da justiça porque não conhecem nenhum outro bem que lhes seja maior. Depois da morte gozam os frutos da sua integridade no mais ínfimo dos cantos celestes e retornam à vida neste mundo ou noutros, ainda mais inferiores. Em contrapartida, afirma-se também que aqueles que, recolhendo-se às florestas, vivem da fé e da disciplina, cheios da paz e sapiência, lançando para trás a poeira das suas paixões fundam-se na Alma Imperecível que é luminosa e menor que os átomos, e ao mesmo tempo a base dos mundos e dos povos, a vista, a fala, o intelecto o real e o imortal. E nada existe além da Alma Universal que permeia tudo, e em todas as direções; sendo Brahman o absoluto, o verdadeiro e o real, é a verdade que conquista e não a falsidade. A Verdade é o caminho dos deuses e a meta ascendente dos sábios porque é suprema. Os fracos, os caminhos errados, as interpretações falseadas das Escrituras Sagradas nunca alcançam Deus. Só os sábios libertos das paixões, na perfeição tranquila das suas almas, na plenitude do conhecimento de Deus, podem alcançar e fundir-se na Alma Universal, porque aquele que conhece a Alma Universal torna-se ele próprio a Alma Universal, cruzando para além das fronteiras das mágoas e pecados, libertos dos anseios secretos do coração.