Não-dualismo de Sankara

Sarvepalli Radhakrishnan — Compêndio de Filosofia da Índia
Não-dualidade de Sankara
Na introdução de seu comentário do Vedanta Sutra ele questiona se há algo na experiência que possa ser visto como fundacional. Nossos sentidos podem nos enganar; nossa memória pode ser uma ilusão. As formas do mundo pode ser pura fantasia. Os objetos de conhecimento podem estar abertos a dúvidas, mas o duvidador ele mesmo não pode ser duvidado. “Todos os meios de conhecimento existem somente como dependentes da auto-experiência e do momento que tal experiência é sua própria prova não há necessidade de provar a existência do si-mesmo”. Não pode ser provada, porque é a base de toda prova. O si-mesmo é auto-estabelecido e é diferente de tudo mais, físico ou mental. Como o assunto não é o objeto. Tem ser em si e para si. É consciência indiferenciada que permanece não afetada mesmo quando o corpo é reduzido a cinzas e a mente perece. O Si-mesmo (Atman) é existência, conhecimento e graça. É universal e infinito.

O mundo-objeto é dependente. É mutável mas não é uma ficção mental. Percebemos objetos; não inventamos as ideias correspondentes. O mundo percebido é tão real quanto o percebedor individual. Sankara repudia o subjetivismo dos Yogacaras (idealistas budistas). Sustenta também que o mundo não é não-existente. Não é abhava (não-existente) ou sunya (vazio). No entanto, o mundo não é a realidade última.

Nossa ignorância nasce da confusão do sujeito trnascendental (Atman) com a existência empírica (anatman).

Quando começamos da finalidade cósmica, como tal, descobrimos que o mundo está limitado pelas categorias de espaço, tempo e causa. Estas não são auto-contidas ou auto-consistentes. Apontam para algo inalterável e absoluto, que permanece idêntico com ele mesmo em toda sua manifestação, Brahman é a base e o fundo de toda experiência. Brahman é diferente do mundo do espaço-tempo-causa. Brahman nada tem de similar a ele, nada diferente dele, e nenhuma diferenciação interna, pois tudo isto são distinções empíricas. Brahman é o não-empírico, o não-objetivo, o todo outro, mas não é não-ser. É o mais alto ser. Com Sankara, Atman é o mesmo que Brahman; a essência do sujeito, a parte mais profunda de nosso ser, é uno com a essência do mundo.

A mundo empírico não pode existir por si. É todo dependente de Brahman, mas as mudanças na ordem empírica não afetam a integridade de Brahman. O mundo depende de Brahman mas Brahman de nada depende. A ignorância afeta todo nosso ser empírico. É outro nome para finitude.

Remover a ignorância é realizar a verdade. Alcançamos a sabedoria quando o erro é dissipado. Enquanto a verdade absoluta é Brahman, a verdade empírica não é falsa. A mais alta representação do ser absoluto através das categorias lógicas é Ishvara, o criador ou saguna Brahman (Brahman com qualidades), Brahman determinado. Brahman, como o Absoluto nirguna Brahman (Brahman sem qualidade) é a base do mundo fenomenal, presidido por Ishvara. No universo empírico, temos Deus (Ishvara), si-mesmos e o mundo.

O si-mesmo individual é o agente da atividade. É o Si-mesmo universal ou Atman limitado ou individualizado pelo objeto. Está conectado como buddhi ou compreensão, e esta conexão dura até que a liberação seja alcançada.

Pela prática das virtudes éticas e pela busca da devoção e do conhecimento alcançamos a meta de auto-realização (moksha). Moksha (auto-realização ou liberdade) é a realização direta da verdade que lá estava desde a eternidade. No alcance da liberdade nada acontece para o mundo; somente nossa visão dele muda. Moksha não é uma dissolução do mundo mas é o deslocamento de uma percepção falsa (avidya) pela justa percepção, sabedoria (vidya).

Sankara (séc. VIII)