Seyyed Hossein Nasr — O Conhecimento e o Sagrado
Esoterismo
O esoterismo é essa dimensão interna da tradição que se dirige ao homem interior, ho esô anthrôpos de São Paulo. Ele é fechado em consequência de sua verdadeira natureza e acessível apenas a alguns, porque, nessa fase da história humana, somente alguns estão conscientes das dimensões interiores de sua natureza. O restante vive na periferia do círculo de sua própria existência, no esquecimento do Centro que é ligado pela dimensão esotérica da tradição à circunferência ou periferia. O esotérico é o raio que fornece os meios de ir da circunferência ao Centro, mas que não é acessível a todos, pois nem todos estão desejosos ou qualificados para compreender a viagem ao Centro dessa vida. Seguir a dimensão exotérica da religião, entretanto, consiste em permanecer na circunferência e o esotérico autêntico está sempre contido no interior de uma tradição que se mostra total e integral. A não ser no Ocidente moderno, e sem dúvida durante a decadência da Antiguidade última, os ensinamentos esotéricos separaram-se da tradição na matriz da qual o esotérico é verdadeiramente o esotérico. Em consequência desse fenômeno, que remonta para o mundo moderno ao século XVIII, o esotérico foi visto, em grande parte, como oposto à tradição cristã, ao passo que o que sobreviveu da tradição cristã, na maior parte dos casos, desdenhou a verdadeira ideia do esotérico, assim como a gnose ou o conhecimento sagrado foram afastados quando se expunha a mensagem da maior parte das igrejas modernas dos tempos atuais. Devido ao seu abandono com relação à tradição, esse suposto esoterismo degenerou, como de costume, em um ocultismo ineficaz e até nocivo, e a película do conhecimento sagrado permaneceu, mas despojou-se do sagrado. O que se pavoneou, na maior parte do tempo, como esoterismo no mundo moderno separou-se do sentido do sagrado, em ruptura total com o esoterismo autêntico tal como era tradicionalmente entendido, que por natureza se relaciona ao sagrado, que é o meio por excelência de se aceder ao sagrado naquilo que é, aqui e agora, reflexão da Imutabilidade e do Eterno.
Considerada em seu aspecto exotérico ou esotérico, a tradição implica a ortodoxia e lhe é inseparável. Se alguma coisa como a verdade existe, há também o erro e normas que permitem ao homem distinguir esta daquela. A ortodoxia, em sua acepção mais universal, não é nada mais do que a verdade nela mesma e ligada à homogeneidade formal de um universo tradicional particular.