Extinção das paixões e do desejo de viver, portanto da corrente dos nascimentos, na doutrina budista. “Essa ilha incomparável em que tudo desaparece e todo apego cessa, chamo de nirvana, destruição da velhice e da morte” (Suttanipata, V, 11). Na filosofia ocidental, Schopenhauer adotou essa noção, vendo nela a negação da vontade de viver, cuja exigência brota do conhecimento da natureza dolorosa e trágica da vida (Die Welt, I, § 71; II, cap. 41). [Abbagnano]
(sânsc., apagar).
(pal. sânscr. que signif. evasão da dor), estado supremo do espírito, no budismo. — Definido pela cessação da dor, cuja forma mais corrente é o “desejo” de possuir alguma coisa de que se tem falta, o nirvana é um estado de ausência, não um puro nada. Quando a alma o atinge, está então libertada do que a religião búdica chama “transmigração”, do perpétuo ciclo das reencarnações a que está presa toda alma imperfeita. Alcança-se o nirvana por sistemático treino do corpo e do espírito (ioga). Esse termo da religião búdica foi retomado por A. Schopenhauer em sua obra O mundo como vontade e representação, para designar a renúncia à vontade de viver e a serenidade que resulta dessa renúncia. Sendo a vida, para Schopenhauer, apenas ilusão e vaidade, a sabedoria só poderia consistir em renunciar. [Larousse]
Simbolizava Buda o nirvana pela chama da vela que, apagada, não é mais chama, nada de chama. Desse modo, o nirvana era a extinção da individualidade, porque a chama, individualmente, não era mais. Nirvana é a ausência da consciência, que é dolorosa, a extinção da consciência na beatitude, liberada dos limites, no ilimitado, é a consecução summum bonum, do supremo bem, a cessação de todo sansara vide). Contudo, Buda sempre fez questão de frisar que jamais havia pregado o mero nada. Dizia que, com maligna intenção, haviam seus adversários afirmado que ele pregara o nada. O que na verdade pregara fora a extinção da dor, do sofrimento, e esta só pode desaparecer quando desaparece o que limita, o que obstaculiza, e os limites são os obstáculos para a plenitude do ser. Nirvana é, assim, a negatividade de tudo o que limita, de toda crise. Vide crise. [MFSDIC]