Nisargadatta (NMIam) – oceano de dor

nossa tradução

P: O que você diz ME lembra o dharmakaya do Buda. — M: Talvez. Não precisamos nos preocupar com a terminologia. Apenas veja a pessoa que você imagina ser como parte do mundo que percebe dentro da mente e olhe para a mente desde fora, pois você não é a mente. Afinal de contas, seu único problema é a ansiosa autoidentificação com o que quer que você perceba. Abandone esse hábito, lembre-se de que você não é o que percebe, use seu poder de distanciamento alerta. Veja-se em tudo o que vive e seu comportamento expressará sua visão. Quando perceber que não há nada neste mundo que você possa chamar de seu, olhe para ele de fora, como olha para uma peça no palco ou para uma imagem na tela, admirando e apreciando, mas realmente não se comovendo. Enquanto você se imaginar como algo tangível e sólido, uma coisa entre as coisas, realmente existente no tempo e no espaço, de vida curta e vulnerável, naturalmente estará ansioso para sobreviver e crescer. Mas quando você se conhecer como algo além do espaço e do tempo — em contato com eles apenas no ponto do aqui e agora, de outra forma onipresente e abrangente, inacessível, inatacável, invulnerável — você não terá mais medo. Conheça-se como você é — contra o medo não há outro remédio. Você precisa aprender a pensar e sentir dessa forma, ou permanecerá indefinidamente no nível pessoal do desejo e do medo, ganhando e perdendo, crescendo e decaindo. Um problema pessoal não pode ser resolvido em seu próprio nível. O próprio desejo de viver é o mensageiro da morte, assim como o desejo de ser feliz é o esboço da tristeza. O mundo é um oceano de dor e medo, de angústia e desespero. Os prazeres são como os peixes, poucos e rápidos, raramente vêm e rapidamente se vão. Um homem de pouca inteligência acredita, contra todas as evidências, que ele é uma exceção e que o mundo lhe deve felicidade. Mas o mundo não pode dar o que não tem; irreal até o âmago, ele não serve para a felicidade real. Não pode ser de outra forma. Buscamos o real porque estamos infelizes com o irreal. A felicidade é nossa natureza real e nunca descansaremos até encontrá-la. Mas raramente sabemos onde buscá-la. Depois de entender que o mundo é apenas uma visão equivocada da realidade e que não é o que parece ser, você estará livre de suas obsessões. Somente o que é compatível com seu ser real pode fazê-lo feliz, e o mundo, como você o percebe, é sua negação absoluta. Fique bem quieto e observe o que vem à tona na mente. Rejeite o conhecido, dê as boas-vindas ao até então desconhecido e rejeite-o por sua vez. Assim, você chega a um estado no qual não há conhecimento, apenas ser, no qual o próprio ser é conhecimento. Conhecer pelo ser é conhecimento direto. Ele se baseia na identidade de quem vê e de quem é visto. O conhecimento indireto baseia-se na sensação e na memória, na proximidade do percebedor e de sua percepção, confinado com o contraste entre os dois. O mesmo acontece com a felicidade. Normalmente, é preciso estar triste para conhecer a alegria e feliz para conhecer a tristeza. A verdadeira felicidade não tem causa e não pode desaparecer por falta de estímulo. Ela não é o oposto da tristeza, mas inclui toda tristeza e sofrimento. [EU SOU AQUILO, Capítulo 94]

original

Q: What you say reminds ME of the dharmakaya of the Buddha. — M: Maybe. We need not run off with terminology. Just see the person you imagine yourself to be as a part of the world you perceive within your mind and look at the mind from the outside, for you are not the mind. After all, your only problem is the eager self-identification with whatever you perceive. Give up this habit, remember that you are not what you perceive, use your power of alert aloofness. See yourself in all that lives and your behaviour will express your vision. Once you realise that there is nothing in this world, which you can call your own, you look at it from the outside as you look at a play on the stage, or a picture on the screen, admiring and enjoying, but really unmoved. As long as you imagine yourself to be something tangible and solid, a thing among things, actually existing in time and space, short-lived and vulnerable, naturally you will be anxious to survive and increase. But when you know yourself as beyond space and time — in contact with them only at the point of here and now, otherwise all-pervading and all-containing, unapproachable, unassailable, invulnerable — you will be afraid no longer. Know yourself as you are — against fear there is no other remedy. You have to learn to think and feel on these lines, or you will remain indefinitely on the personal level of desire and fear, gaining and losing, growing and decaying. A personal problem cannot be solved on its own level. The very desire to live is the messenger of death, as the longing to be happy is the outline of sorrow. The world is an ocean of pain and fear, of anxiety and despair. Pleasures are like the fishes, few and swift, rarely come, quickly gone. A man of low intelligence believes, against all evidence, that he is an exception and that the world owes him happiness. But the world cannot give what it does not have; unreal to the core, it is of no use for real happiness. It cannot be otherwise. We seek the real because we are unhappy with the unreal. Happiness is our real nature and we shall never rest until we find it. But rarely we know where to seek it. Once you have understood that the world is but a mistaken view of reality, and is not what it appears to be, you are free of its obsessions. Only what is compatible with your real being can make you happy and the world, as you perceive it, is its outright denial. Keep very quiet and watch what comes to the surface of the mind. Reject the known, welcome the so far unknown and reject it in its turn. Thus you come to a state in which there is no knowledge, only being, in which being itself is knowledge. To know by being is direct knowledge. It is based on the identity of the seer and the seen. Indirect knowledge is based on sensation and memory, on proximity of the perceiver and his percept, confined with the contrast between the two. The same with happiness. Usually you have to be sad to know gladness and glad to know sadness. True happiness is uncaused and this cannot disappear for lack of stimulation. It is not the opposite of sorrow, it includes all sorrow and suffering. [I AM THAT, Chapter 94]

Nisargadatta Maharaj (1897-1981)