ELTCHANINOFF, M. Dostoïevski, roman et philosophie. Paris: Presses universitaires de France, 1998.
O que primeiro salta aos olhos do leitor é o aspecto caótico, quando não confuso, de sua arte [de Dostoiévski]. O Adolescente, seu penúltimo romance, é um dos melhores exemplos disso. Trata-se, sem dúvida, do mais desenfreado e desordenado de todos. Sem nos alongarmos nos inúmeros detalhes dessa história tão complicada, digamos que a narrativa, embora centrada no jovem herói, que nos apresenta seu diário íntimo, dispersa-se em uma multiplicidade de linhas mais ou menos independentes entre si, cuja necessidade narrativa pode, por vezes, parecer questionável. Toda a ação – aliás, bastante escassa – resume-se a encontros casuais que desencadeiam longas discussões sobre temas variados, às hesitações, às decisões abruptas e às recuos do protagonista, que possui um documento capaz de comprometer a mulher que ama. De repente, a narrativa é interrompida por um sonho de infância, uma anedota insignificante contada por um inquilino, o relato de um camponês errante. Depois, retoma o ritmo acelerado, os acontecimentos se acumulam de tal forma que o leitor tem grande dificuldade em acompanhar. Por fim, tão subitamente quanto antes, a calma volta a reinar, como se nada tivesse acontecido… Dois personagens, sem qualquer vínculo familiar, carregam, não se sabe por quê, o mesmo nome (o “velho” príncipe Sokolski e o “jovem”). É preciso notar ainda o número e a insistência das intromissões “autocríticas” do autor do diário íntimo. O Adolescente ainda vive a prever “catástrofes” terríveis, mas estas muitas vezes demoram a acontecer ou são imediatamente resolvidas e esquecidas. Os rumores mais diversos e inverossímeis circulam nessa narrativa quase onírica, nesse anti-romance, no fim das contas, tão irritante quanto fascinante. Parece muito difícil elaborar uma análise coerente de uma obra tão tumultuada e anárquica. A filosofia deveria abdicar de suas pretensões diante de um objeto irredutível a qualquer tentativa de conceituação?