O termo “romântico”

(Angelloz1973)

O termo “romântico” tem uma longa pré-história1). Originalmente, deriva de “Romanz”, que desde 1135 designava a língua vulgar falada na França entre o baixo-latim e o francês moderno, bem como o romance ou obra ficcional. Mas foi na Inglaterra que surgiram as formas “romant/romaunt” e “romantic/romantik”, já em 1650 com T. H. Bayly, ou em 1652 com F. Greville (segundo Baldensperger), e depois com Smith em 1659. Nesse contexto, a palavra assumia o sentido de imaginário, irreal — como nas “engenhosas fábulas que chamamos de romances” (G. de Scudéry, prefácio de Alarie, 1654). Enquanto na França se usava “romanesco”, Smith falava em “romantick inventions” e More, em 1661, em “romantick poetry”.

Da Inglaterra, o termo migrou para a Alemanha, primeiro como “romanisch” (que logo desapareceu) e depois como “romantisch”, que no final do século XVII prevaleceu definitivamente — o que Ullmann e Gotthard chamam de “primeira invasão inglesa”: a do romanesco, visto aliás como algo negativo. Em 1698, o teólogo suíço Heidegger publicou Mythoscopia Romantica, condenando as “vãs diversões românticas” (os romances de aventuras fantásticas e eróticas). O epíteto era usado pelos críticos do gênero — assim como, 110 anos depois, Voss e Schreiber o empregariam contra os Romantiker. Na época, “romantisch” significava aventureiro, irreal, romanesco.

Após um período de eclipse, o termo ressurgiu na Suíça. Em 1740, Breitinger — que defendia o valor do romance e seu direito à inverossimilhança — falava em “romantische Begebenheit” (acontecimento romântico) e “romantische Liebe” (amor romântico). Herder, Wieland e outros escritores retomaram a palavra para distinguir ficção e realidade. Tornou-se tão modismo que Vulpius chegou a publicar uma “Bibliothek des Romantisch-Wunderbaren” (Biblioteca do Romântico-Maravilhoso). Se ainda não tinha valor positivo, o irreal agora tinha lugar no romance.

Paralelamente, ocorreu uma “segunda invasão” inglesa via Rousseau: só o adjetivo “romântico” podia expressar o valor pitoresco da natureza livre, das montanhas, das ruínas… Buscou-se então conciliar as duas concepções — mundo exterior e interior -, antecipando elementos da psicologia romântica, sobretudo em Tieck.

A esses conceitos de irrealidade e pitoresco somou-se o da exaltação (das Ueberspannte), uma tensão que podia levar à exageração ou excentricidade. Assim, “romântico” tornou-se bandeira na luta entre razão iluminista e sentimentalidade — entre Nicolai e os herdeiros do Sturm und Drang.


  1. Estudada principalmente por Richard Ullmann e Hélène Gotthard em Geschichte des Begriffes «Romantisch» in Deutschland (1927) e por Baldensperger em «Romantique», ses analogies et ses équivalents (1937 

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