O Vaso de Ouro de Hoffmann

Monstruosité ? dans Le Vase d’or de E.T.A. Hoffmann. Florence Hafner, doctorante

Foi durante a campanha da Alemanha por Napoleão (e especialmente a derrota alemã em Dresden) que Hoffmann escreveu o conto. Ele viu nisso uma motivação adicional para escrevê-lo, refugiando-se em um mundo idílico durante horas sombrias. Em uma carta dirigida ao seu editor Kunz, datada de 19 de agosto de 1813, ele escreve: « É como se eu abrisse as portas de um reino maravilhoso, surgido de meu íntimo, e que, tomando forma, ME afastasse da pressão do mundo exterior. »

O conto foi publicado no final de 1814 no segundo volume dos Contos à Maneira de Callot, primeira coletânea pela qual o autor alcançou certa notoriedade. Hoffmann se inspirou livremente no famoso desenhista e gravurista do século XVII, Jacques Callot, conhecido pela precisão e riqueza de detalhes de suas águas-fortes. É, sem dúvida, o caráter fantástico de sua obra que particularmente encantou Hoffmann.

O Vaso de Ouro está dividido em doze “Vigílias”, doze “veleidades” que traçam a iniciação de um jovem que, pouco a pouco (e não sem dificuldades), abandona o mundo racional e trivial do cotidiano para adentrar o mundo maravilhoso da natureza. Eis um breve resumo.

O jovem estudante Anselmo não tem sorte alguma. Depois de derrubar as maçãs de uma velha assustadora no mercado e perder todo o seu dinheiro para compensá-la, ele vai, desesperado, até as margens do rio Elba, sob uma árvore de sabugueiro, e mergulha em pensamentos sombrios. Após alguns instantes, parece-lhe que a natureza o chama, e três serpentes douradas e verdes aparecem, encantando-o com suas vozes mágicas. Anselmo fica particularmente fascinado por aquela que ele chama de Serpentina, em cujos olhos ele se perde. Descobre-se depois que as serpentes são as três filhas do arquivista Lindhorst, cujo verdadeiro nome é Salamandra, e que as concebeu com uma serpente nascida de uma rosa – uma concepção que o levou a ser expulso da Atlântida. O paraíso ainda é acessível para as três filhas se elas conseguirem seduzir um mortal em sua forma animal e se o amor deste for puro o suficiente. Lindhorst contrata Anselmo como copista em sua casa. Lá, o jovem descobre um universo mágico onde plantas e animais falam. Lindhorst promete a ele a mão de Serpentina e o vaso de ouro (seu dote) se seu amor resistir às armadilhas das forças do mal.

Uma luta se inicia quando Verônica, filha de um amigo, se apaixona por Anselmo e já sonha em se casar com ele, imaginando um futuro como conselheira da corte, pois ouviu dizer que Anselmo poderia um dia alcançar essa posição. Ao descobrir que ele está apaixonado por outra, ela procura uma feiticeira, que promete ajudá-la. Por meio de feitiços, Verônica consegue desviar Anselmo de seu amor por Serpentina a tal ponto que ele começa a questionar se tudo não teria sido apenas um sonho. Seu trabalho no arquivo perde todo o encanto, e ele acaba derramando tinta em um manuscrito. A punição não tarda: ele é aprisionado dentro de um frasco em uma prateleira da casa. De lá, impotente, ele testemunha uma batalha entre a feiticeira, que tenta roubar o vaso de ouro, e o arquivista, que sai vitorioso. Lindhorst compreende que Anselmo falhou devido aos feitiços da bruxa e o perdoa. Oferece-lhe a mão de sua filha, e Anselmo e Serpentina se casam na Atlântida, o mundo celestial do qual Lindhorst havia sido banido. Até Verônica supera seu fracasso, casando-se com outro personagem do conto e tornando-se esposa de um conselheiro da corte.

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