Oetinger Teologia

Oetinger — Theologia ex idea vitae deducta
F.Ch. Oetinger, Theologia ex idea vitae deducta (ed. com notas 1765), Ed. W. de Gruyter, Berlim, 1979, p. 266 sq., trad. parcial do latim: P. A. Riffard. Trad. Yara Azeredo Marino
Resumo de Teologia
Qualquer que tenha sido o objetivo da Criação dos homens, foi o mesmo que o da restituição feita através de Cristo, a mais próxima das origens, a mais distante da consumação (dos séculos). A comunicação da vida e da imagem de Deus foi o objetivo da Criação e dádiva também da restituição. A fé é a meta mediatriz para a comunicação da vida, não somente na medida em que ela a justifica, mas também santifica. E, da mesma forma que João não confunde a fé com a vida, nem Paulo com a salvação (João, 20, 31; II Timóteo, 3, 15), nós também não o fazemos. De fato, ensinamos que a fé conduz à salvação e à vida. A fé vem do Evangelho e isso é o Evangelho da Lei (I Timóteo, 1, 11), porque ele conduz à vida, à lei e à incorruptibilidade. A partir daí, a vida será a recompensa daqueles que buscam a glória, a honra e a incorruptibilidade (Romanos, 2, 7) e isso será a graça, a graça dos que amam Jesus com amor eterno (Efésios, 6, 24). Ao passo que o Evangelho é chamado Evangelho da Lei (I Timóteo, 1, 11), e o Espírito, o espírito santo da lei (I Pedro, 4, 14), a lei para Paulo é julgada vida e imagem de Deus (Romanos, 3, 23; 6, 4; 5, 2). A salvação também tem predições magníficas em relação à lei eterna (I Pedro, 1, 4; 5, 10; II Timóteo, 2, 10); ocorre que a teologia é salutar para os homens naquilo que eles conhecem pelo sentido e pela experiência e de que eles se servem para um uso apropriado. O conhecimento histórico no homem pelo sentido espiritual não é verdadeiro, nem o conhecimento teológico entre os ímpios e os hipócritas (II Coríntios, 4, 3-4; I Samuel, 2, 12; I Coríntios, 8, 2-3; 11, 34; I João, 2, 3-4; Mateus, 22, 29; I Coríntios, 2, 14-15; Colossenses, 2, 8). A própria imagem de Deus que deve ser instaurada é baseada na comunhão com a cruz do Cristo; a menos que se tenha escolhido se submeter a uma total ignomínia, ela não é propriedade do Cristo e dos apóstolos e dos falsos apóstolos (I Coríntios, 4, 8; Gálatas, 1, 10; 6, 12; Filipenses, 3, 18-19). E por isso que o primeiro momento da teologia está situado no conhecimento verdadeiro e experimental. Um outro momento se situa nas regras de conduta com respeito a Deus e aos homens — não somente as externas — pois a fé dirige e confirma as espirituais (I Timóteo,l, 5; II, 1, 13). Assim está instaurada a imagem de Deus; assim ela é conservada e desenvolvida pela renovação cotidiana do espírito na imitação do Cristo.

O homem é feito à imagem do Deus trino (Gênesis, 1, 26). Sua imagem lhe foi conferida porque as forças da vida espiritual se encontram no homem, e graças a elas todas as faculdades da alma, do coração e do espírito aderirão a Deus. Sua imagem foi colocada na justiça e santidade da verdade (Efésios, 4, 24), porque ela é oposta ao erro e ao vício dos desejos (Colossenses, 3, 10). Os fiéis, por intermédio de algum espelho espiritual, contemplam no Verbo a glória de Deus ou seu esplendor que deve ser visto em sua face revelada, e, através dessa mesma imagem, eles são transformados (de forma oculta, Colossenses, 3, 3) pelo próprio espírito e vão da glória para a glória (II Coríntios, 3, 18).

É, portanto, nessa participação na glória e na vida de Deus que foi situada, em primeiro lugar, a imagem de Deus, e secundariamente na perfeição da vida animal com a imortalidade e a soberania. A própria privação dessa glória representou a morte espiritual e o princípio da morte animal. A vida animal não existiu, no tempo anterior aos partos, pois antes de inspirar o sopro Adão foi apenas pó. Por consequência, essa inspiração concedeu-lhe as duas vidas: a vida animal e a vida espiritual. O filho de Deus, imagem eterna do pai, restituiu a imagem perdida ao tomar forma humana e, pela mediação de sua carne, instaurou-a entre os homens por seu espírito vivificante. De sua plenitude recebemos a graça pela graça — a graça, é certo, e a verdade (João, 1, 16-17). A imagem de Deus mostrou-se muito mais perfeita no outro Adão do que no primeiro. Ela nos é mostrada pela abundância da graça e do dom da justiça (Romanos, 5, 14). Para que pudéssemos receber essa graça e a verdade (Romanos, 5, 17), o Cristo, do mesmo modo, foi levado ao estado de despojamento e exaltação ao mesmo tempo em que mostrava o caminho pelo qual convinha sermos transformados na contemplação de sua imagem. O Cristo, segundo suas duas naturezas, é o mediador que nos reconcilia com Deus e nos santifica. Da mesma forma que sua natureza humana é despojada e exaltada pela redenção da imagem de Deus, sua natureza divina também nos é conferida ou bem sua imagem — isto é, a vida espiritual — é estabelecida em nós por seu intermédio, de tal modo que comemos a carne e bebemos o sangue do Cristo (João, 6, 33). E necessário compreender essas palavras a partir do espírito vivificante do Cristo. Assim, se o Cristo vive no homem, somente ele pode se contemplar em sua própria imagem e se metamorfosear em suas próprias forças. Todavia, há entre a imagem de Deus nessa vida e na vida futura apenas uma diferença gradual tanto quanto essencial, pois a imagem de Deus depois da queda é a luz espiritual pela qual o homem é reconduzido à santidade e à justiça. Na vida eterna existe a mesma luz espiritual; porém, nessa vida, a imagem de Deus aí fixada faz-se necessária àquele que obtém a vida eterna, não pela necessidade de uma causa que interessa, mas por uma questão de ordem e de condição. Conclui-se que o papel dos Cristãos é o de receber em si a unção do Espírito Santo. Assim é estabelecida a imagem de Deus. Que a força da fé seja constante para com todas as coisas, de modo que o brilho de sua glória que a fé recebe não encontre obstáculos. Que essa luz recebida possa fazer com que vislumbremos a luz em todas as coisas. Se essa luz falha, desaparece o papel dos Cristãos. Se ela cessa, dá-se o pecado e a queda (II Coríntios, 3, 18; 4, 6; Salmos, 36, 10; II Coríntios, 4, 4; Lucas, 10, 34-35).



Friedrich Christoph Oetinger (1702-1782)