Jean-François Duval: HEIDEGGER ET LE ZEN
O Mundo enquanto Ideia é antes de tudo transcendência; ele ultrapassa (“übersteigt”) os fenômenos, mas nisso mesmo, e porque é totalidade destes fenômenos, ele se encontra relacionado a eles.
O «mesmo» Mundo é a Terra desconhecida (transzendent) para qual se orienta a abertura desejante (transzendenze) que de-fine o fundo do ser humano, a «natureza» humana. Este polo de Ausência, esta Terra desconhecida, permanece conhecida a partir do olhar ilusivo que o ser humano coloca sobre seu ambiente, sobre os fenômenos conhecidos, muito conhecidos, que o cercam. Olhar desrealizando as realidades muito opressivas para a sensibilidade. Olhar-falha que abre uma brecha na grande muralha do real. Olhar-Ideia que abre a esclerose dos conceitos nesta representação do «mesmo» Mundo cujo conteúdo se reduz a uma totalidade incondicionada. Ideia logo essencialmente ambígua quanto a sua natureza, posto que ultrapassa as realidades fenomenais das quais não pode no entanto jamais se exilar, posto que a resistência delas é a condição de sua produção neste vivente particular que é o ser humano. A Ideia de Mundo, do «mesmo» Mundo, não é portanto senão o índice do desejo profundo da natureza humana de ultrapassar um ambiente do qual não pode no entanto finalmente fazer pouco caso, posto que o indeterminado pressentido não se pensa ainda e sempre senão pela relação às determinações obsedantes.