Raimon Panikkar — A EXPERIÊNCIA DE DEUS
O DISCURSO SOBRE DEUS
Deus não é o único símbolo do divino
O pluralismo é inerente à condição humana e impede de se falara de Deus a partir de uma única perspectiva ou de um único princípio de inteligibilidade. A palavra «Deus» ele mesmo não é necessária.
Toda pretensão a reduzir o símbolo «Deus» ao que compreendemos por isto, não somente destruiria, mas cortaria também as ligações com todos aqueles homens e aquelas culturas que não sentem a necessidade deste símbolo. A pretensão de apresentar um esquema de inteligibilidade unificado na escala universal é um resto de colonialismo cultural. Universalizar nossa própria perspectiva é uma extrapolação não justificada. A possibilidade mesma de uma «perspectiva global» é certamente uma contradição em si.
Filósofos e teólogos poderiam certamente nuançar as duas afirmações precedentes, mas talvez a solução poderia surgir mais facilmente se cortássemos o nó górdio de uma teoria universal sobre Deus e se redescobríssemos o divino como uma dimensão e o pluralismo (não a pluralidade) como um traço da realidade mesma?