Raimon Panikkar — A EXPERIÊNCIA DE DEUS
Tradução da versão francesa, “L’Expérience de Dieu”
Um discurso com seu estilo próprio
O discurso sobre Deus é radicalmente diferente de qualquer outro discurso sobre não importa que objeto, pois Deus não é um objeto. Ele não seria então senão um simples ídolo.
A palavra “Deus” faz referência a um campo de investigação e de ensino radicalmente diferente de todos os outros. Tomemos, por exemplo, a física. A distinção não consiste em dizer que Deus é misterioso e que a física não o é. Os conceitos da física — energia, força, massa, número — são tão misteriosos quanto pode ser a palavra “Deus”. Mas se, na física, mesmo não o sabendo de maneira certa o que ela é, dispomos ou podemos dispôr de parâmetros que nos permitem medir regularidades ou formular leis possíveis sobre o funcionamento da realidade física, esta operação não é possível com Deus. Não há parâmetros adequados nos permitindo falar do “funcionamento” desta realidade que chamamos “Deus”.
O discurso sobre Deus é único e não pode portanto ser comparado a nenhuma outra linguagem humana. É irredutível a qualquer outro discurso.