Panikkar Discurso sobre Deus

Raimon Panikkar — A EXPERIÊNCIA DE DEUS
O DISCURSO SOBRE DEUS
Um discurso sobre Deus e não sobre uma Igreja, uma religião ou uma crença
Deus não é monopólio de nenhuma tradição humana; nem daquelas que se denominam «teístas» nem daquelas que se denominam, erroneamente, crentes, posto que todo mundo crê em uma coisa ou outra. Também não é o «objeto» de um pensamento qualquer. Um discurso que desejaria aprisioná-lo em uma ideologia qualquer seria sectário.

Em outros termos, os cristãos podem falar em nome do Cristo, os budistas podem invocar Buda, os marxistas Marx, os democratas a Justiça e a Liberdade, as filosofias a Verdade, os cientistas a Exatidão,os muçulmanos Maomé, etc., e cada um destes grupos humanos pode ser crer intérprete de uma convicção que vem de Deus ou da realidade ela mesma, que se denomina , evidência, razão, senso comum ou qualquer outra coisa. Mas se o Nome de Deus deve desempenhar um papel em tudo isso, deve ser um símbolo de outra ordem, um símbolo

que serve para desenraizar o absolutismo de toda atividade humana, um símbolo que atualiza a contingência de todos os empreendimentos humanos e torna assim impossível todo totalitarismo de algum tipo que seja. «Não somente Deus não é exterior ao mundo mas lhe é absolutamente interior», dizia Zubiri. Se interior ao mundo que não se pode nem separá-lo metafisicamente, nem dividi-lo politicamente, nem compartimentá-lo socialmente.