Panikkar Símbolo Conceito

Raimon Panikkar — A EXPERIÊNCIA DE DEUS
O DISCURSO SOBRE DEUS
Um discurso sobre um símbolo e não sobre um conceito
Deus não pode ser objeto nem de um conhecimento nem de uma crença qualquer. A palavra «Deus» é um símbolo que se revela e se vela no símbolo do qual se fala. Todo símbolo é tal porque é e não porque é intérprete de um conteúdo objetivo de conhecimento. Não há hermenêutica possível do símbolo, porque sua própria interpretação se situa nele mesmo. O símbolo é sym-bolo (pôr junto) quando estabelece uma relação com, quer dizer quando reconhece-se ele como tal. Um símbolo que não fala imediatamente àquele que o percebe cessa de ser símbolo. Pode-se nos ensinar a ler símbolos, mas, enquanto não compreendemos diretamente o que lemos, o símbolo é letra morta.

Diferentemente dos conceitos, unívocos, pelos menos na intenção, os símbolos portam muitos sentidos. O símbolo é eminentemente relativo, não no sentido de relativismo, mas de relatividade, de relação entre um sujeito e um objeto. O símbolo é para contemplar e não pretender ser nem universal nem objetivo. É concreto e imediato, quer dizer sem intermediário entre o sujeito e o objeto. O símbolo é ao mesmo tempo objetivo e subjetivo; é constitutivamente relação. O símbolo simboliza portanto, estabelece uma relação como o que é simbolizado nele e não outra «coisa».

Se a linguagem não fosse senão um instrumento para designar objetos ou transmitir uma simples informação, um discurso sobre Deus não seria possível. No entanto os homens não falam somente para transmitir informações, mas também porque têm uma necessidade constitutiva de falar, quer dizer viver plenamente em particular pela palavra em um universo que, por sua vez, é inseparável do logos, da palavra.

Raimon Panikkar