Hixon: Pastoreio Boi

BUDISMO — CHAN — AS DEZ ETAPAS DA ILUMINAÇÃO
O Pastoreio do Boi e o Zen
”Excertos de “O Retorno à Origem”, de Lex Hixon.”

A Iluminação não é um talento isolado de antigos ou legendários sábios e sim um processo de florescimento através de membros de toda cultura, um processo no qual nossa consciência gradualmente se torna transparente à sua própria natureza intrínseca. Várias tradições desenvolveram linguagens sutis para descrever fases desse processo. Essas dimensões da Iluminação não são projeções escolásticas; elas refletem o encadeamento complexo da consciência, à medida que gradualmente se purifica ou fica mais clara pela consciência de si mesma.

Aquele que busca a Iluminação precisa se tornar um observador tão próximo da consciência quanto o esquimó o é das condições da neve. A Iluminação não é, do mesmo modo como a neve também não é, simplesmente uma expansão da brancura, e sim um processo que se desenvolve através de várias fases. As dez etapas da Iluminação são evocadas pelas imagens do Pastoreio do Boi, desenvolvidas na China do século doze, nas quais a busca espiritual é retratada como a procura de um boi ardiloso que vaga a esmo na floresta. Esse boi simboliza a natureza intrínseca da consciência, o mistério daquilo que somos. No ensinamento budista, nossa natureza intrínseca mostra-se como aquilo que não tem uma natureza intrínseca, ou seja, a essência da nossa consciência é vazia, livre, ou aberta. As dimensões da Iluminação, sugeridas por essas dez imagens, tornam-se progressivamente mais abrangentes à medida que essa essência da consciência, ou aquilo que os mestres Zen denominam nossa Verdadeira Natureza, torna-se cada vez mais clara.

1. A PROCURA DO BOI — O Boi jamais realmente se perdeu. Nossa Verdadeira Natureza jamais é perdida e por conseguinte jamais poderá ser encontrada.

2. O ENCONTRO DAS PEGADAS — Essas pegadas são o ensinamento de sabedoria de que todos os fenômenos são a luz da Mente Original. Do mesmo modo como vasos de ouro de diferentes formatos são todos feitos basicamente do mesmo metal, também toda e qualquer coisa é uma manifestação do Eu.

3. O PRIMEIRO VISLUMBRE DO BOI — Este encontro com o Boi não surge escutando-se ensinamentos esotéricos e sim por meio da experiência direta. O Boi não é mais considerado como estando em algum lugar da floresta.

4. A CAPTURA DO BOI — Precisamos agora segurar e abraçar o Boi, dar sustentação à maneira como percebemos a Verdadeira Natureza com disciplinas como a compaixão total, a não-violência perfeita e a honestidade inabalável.

5. A DOMESTICAÇÃO DO BOI — Uma intimidade ou amizade espontânea com o Boi agora se estabelece. O Boi torna-se um companheiro livre, não um instrumento para arar o campo da Iluminação.

6. A CONDUÇÃO DO BOI PARA CASA — O praticante adiantado agora se torna o sábio iluminado. A luta terminou. O sábio começa, espontaneamente, a irradiar a Iluminação.

7. O BOI ESQUECIDO, O EU SOLITÁRIO — O sábio, finalmente, considera a si mesmo como a expressão total da Verdadeira Natureza. Todos os conceitos e práticas espirituais são agora inúteis. O modo contemplativo tornou-se indistinguível da vida cotidiana.

8. O BOI E O EU ESQUECIDOS — Existe apenas a Iluminação Desperta: ninguém contempla e nada é contemplado, não há serenidade nem agitação. Não há ninguém, nem mesmo o sábio.

9. O RETORNO À ORIGEM — A consciência sem forma está voltando a ter formas sem, no entanto, perder sua natureza informe, ou perfeitamente unitária. A Iluminação simplesmente é o lago azul e a montanha verde.

10. A ENTRADA NO MERCADO COM MÃOS BONDOSAS — O ser jovial que manifesta a Iluminação em sua plenitude não segue nenhum caminho. Ele carrega uma botelha de vinho, símbolo do êxtase tântrico que faz o vinho do mundo humano ilusório deixar de ser veneno, transformando-o em néctar.

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