Pensar sobre o pensamento

(Molder1995)

A invenção da escrita é temível aos olhos daquele para quem o movimento vivo da palavra, enquanto passa da boca de um para o ouvido de outro, constitui o elemento em que o pensamento se conforma, para quem sabe, ao mesmo tempo, que esse movimento vivo só pode aparecer, enquanto reconhecimento intencional, através da sua transcrição escrita, que é, com efeito, mais do que uma transcrição. O movimento da palavra, que conspira para manifestar um pensamento, envolve-se em luta com o próprio pensamento por via dessa transcrição mesma, luta por expressar, recuperar a sua própria fisionomia — o progresso do pensamento exprimindo-se de viva voz —, e luta pelo reconhecimento de si, através desse vazio branco que cresce nos interstícios da própria transcrição; luta que transforma a consciência imediata do pensamento em conhecimento mediato acerca do pensamento: pensar sobre o pensamento, o que, a acreditar numa das suas Xenien, Goethe não ousou empreender: Ich habe nie über das Denken gedacht.

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