Graal – Perceval
Maria Gabriela Carvalhão Buescu. Perceval e Galaaz, Cavaleiros do Graal. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1991
O Perceval ou Li Contes du Graal de Chrétien de Troyes abre com uma dedicatória ao Conde de Flandres, Filipe de Alsácia, louva-o pelas suas virtudes morais, os seus dons cristãos e sobretudo a sua generosidade:
“Le conte aime justice et loyauté et sainte Eglise. Il déteste toute vilenie”.
E acrescenta:
“Sachez donc en vérité que les dons du Comte Philippe sont bien de charité” (124).
Chrétien de Troyes aduz a informação de que por sua inspiração e estímulo do Conde Filipe de Flandres escrevera o Conto do Graal insinuando, mesmo, que aquele lhe entregara um livro sobre o qual trabalhara:
“Et Chrétien n’y perdra sa peine, lui qui, par le commandement du Comte, s’emploie à rimer la meilleure histoire jamais écrite en cour royale. C’est le Comte du Graal dont le Comte lui bailla le livre”.
Após a dedicatória dos seus contos do Graal ao Conde, Chrétien de Troyes principia, como anunciara, a narração da história de Perceval. No intuito de tomar mais linear esta síntese, agrupá-la-emos por episódios, segundo a grelha que Frappier aplicou. Não obstante, parece-nos também importante considerar a possível divisão proposta por Loomis:
“Perceval or the Story of the Grail may be divided into three parts: the youthful adventures of the hero; his visit to the Grail castle and its sequei; the adventures of Gawain”.
Esta proposta de Loomis prende-se de certo modo com a hipótese colocada por alguns arturianistas, segundo a qual se põe em causa a unidade da obra, a qual resultaria da justaposição das aventuras de Perceval e de Gauvain. No nosso caso, porém, optámos pela proposta de Frappier, que dá conta, mais explicitamente, da sequência narrativa. Com efeito, Frappier divide a história basicamente em dez núcleos temáticos, aos quais, no entanto, nos pareceu conveniente acrescentar mais um, como veremos, e que corresponde ao que considerámos a iniciação de Perceval.