Planetas Metais

Titus Burckhardt, ALQUIMIA (TBA)

Expresso em termos um pouco ousados, pode dizer-se que o metal é uma forma espiritual da matéria corporal, isto enquanto os planetas ou os astros representam genericamente uma forma corporal do espírito.

Os alquimistas designam os diferentes metais com os mesmos símbolos usados para designar os planetas e, em muitos casos, dão-lhes também os mesmos nomes. Assim, para ouro dizem «Sol», para prata, «Lua», para mercúrio, «Mercúrio», para cobre, «Vênus», para ferro, «Marte», para estanho, «Júpiter» e, para chumbo, «Saturno». As analogias aqui expressas, segundo as quais se estabelece uma relação entre a alquimia e a astrologia, fundamentam-se na lei que a Tábua Esmeraldina enuncia do seguinte modo: «O de baixo é igual ao de cima».

A astrologia e a alquimia, que, na sua forma ocidental, derivam do mesmo legado hermético, relacionam-se entre si como o Céu e a Terra. Com efeito, enquanto a astrologia indica o significado do Zodíaco e dos planetas, a alquimia, por seu lado, indica o dos elementos e dos metais. Os doze símbolos do Zodíaco são uma imagem simplificada dos arquétipos que, de forma imutável, o espírito contém em si. Por seu turno, os elementos fogo, ar, água e terra revelam materialmente as diferenças fundamentais da matéria-prima (hyle). Ao passo que os planetas, ao irem-se situando nas suas diferentes posições uns em relação aos outros, concretizam no tempo as possibilidades contidas no Zodíaco, forma de assim representarem os modos de agir do espírito, espírito que «desce» do Céu à Terra, os metais, ao invés, constituem os primeiros frutos da matéria elementar entretanto amadurecidos pelo espírito.

A alquimia ensina que os metais são produzidos no obscuro ventre da Terra por obra dos sete planetas, ou seja, o Sol, a Lua e os outros cinco planetas que a simples visão nos permite observar. Contudo, esta ideia não deve interpretar-se enquanto explicação física, antes indica tão-só o modo como, na sua essência, e não segundo a história do seu desenvolvimento, as aparências corporais derivam dos dois polos originários da existência. Com vista ao contraponto entre astros e metais, dispõe-se de uma espécie de escala ontológica, escala por meio da qual é possível relacionar entre si todos os aspectos da Natureza. Isto não se aplica apenas à natureza «externa» (o macrocosmo), aplica-se igualmente ao microcosmo, isto é, ao homem no âmbito da sua condição de ente composto de alma e corpo, pois, do mesmo modo que para a alquimia existem metais «interiores», também para a astrologia existem planetas «interiores».

Determinadas alterações verificadas na ordenação entre metais e planetas deriva sobretudo do facto de, em algumas escolas alquímicas, o mercúrio, por via da sua volatilidade e do efeito produzido sobre outros metais, não figurar entre os metais ou «corpos», mas sim entre os elementos voláteis ou «espíritos». Na escala dos sete metais, coloca-se então um outro metal no lugar do mercúrio, o qual pode ser mesmo uma liga. O essencial é que cada um dos sete metais represente um tipo determinado, ou seja, todo um grupo de metais relacionados entre si.

A dualidade dos polos ativo e passivo da existência, dualidade que se vem a manifestar na oposição entre Céu e Terra, e bem assim entre planetas e metais, acaba também por se refletir, dentro de cada um dos dois grupos, na dualidade Sol e Lua, ouro e prata. O Sol — ou o ouro — constitui, de certo modo, a representação do polo ativo da existência, enquanto que a Lua — ou a prata — representa o polo passivo, a matéria-prima. Assim, ouro ou Sol é espírito, prata ou Lua é alma.

Os restantes metais, ou os restantes planetas, participam em proporção variável de um ou do outro polo da existência, de tal forma que estes não se podem manifestar inteiramente neles.

A graduação das propriedades cósmicas, que se manifestam de um modo ativo nos planetas e de um modo passivo nos metais, expressa-se claramente ao nível dos sete signos, pois estes tanto representam uns como outros. Referimo-las segundo a ordem das órbitas dos planetas quando vistas da Terra.

 

Alquimia, Astrologia, Titus Burckhardt