QUATRO — QUATERNÁRIO
Filosofia
Mario Ferreira dos Santos: QUATERNÁRIO
René Guénon: A GRANDE TRÍADE
A consideração de dois ternários, como aqueles de que acabamos de falar, que têm em comum os dois princípios complementares um do outro, leva-nos ainda a algumas outras observações importantes. Os dois triângulos inversos que os representam respectivamente podem ser considerados como tendo a mesma base, e, se os figurarmos unidos por essa base comum, veremos, antes de tudo, que o conjunto dos dois ternários forma um quaternário, uma vez que, sendo dois termos os mesmos num e noutro, há apenas, ao todo, quatro termos distintos e, em seguida, que o último termo desse quaternário, situando-se na vertical oriunda do primeiro e simétrica a este em relação à base, aparece como o reflexo desse primeiro termo, sendo o plano de reflexão representado peia própria base, isto é, sendo apenas o plano mediano onde se situam os dois termos complementares oriundos do primeiro termo e que produzem o último (Fig. 1)1. No fundo, é fácil compreender isso, porque, de um lado, os dois complementares estão contidos principalmente no primeiro termo, de modo que suas respectivas naturezas, mesmo quando parecem contrárias, são, na realidade, apenas o resultado de uma diferenciação da natureza deste, e, por outro, o último termo, como produto dos dois complementares, participa, ao mesmo tempo, de um e de outro, o que equivale a dizer que reúne, de algum modo, em si suas duas naturezas, de modo que ele é ali, em seu nível, como uma imagem do primeiro termo; e essa consideração leva-nos a precisar ainda mais a relação dos diferentes termos entre si.
Acabamos de ver que os dois termos extremos do quaternário, que são ao mesmo tempo, respectivamente, o primeiro termo do primeiro ternário e o último do segundo, são, um e outro, por sua natureza, intermediários, de certa forma, entre os dois outros, ainda que por razão inversa: nos dois casos, unem e conciliam em si os elementos do complementarismo, mas um como princípio e outro como resultante. Para tornar sensível esse caráter intermediário, podemos figurar os termos de cada ternário, seguindo uma disposição linear2: no primeiro caso, o primeiro termo situa-se então no meio da linha que junta os dois outros, aos quais ela dá nascimento simultaneamente, por um movimento centrífugo dirigido nos dois sentidos e que constitui o que se pode chamar polarização (Fig. 4); no segundo, os dois termos complementares produzem, por um movimento centrípeto, que parte ao mesmo tempo de um e de outro, uma resultante, que é o último termo e que se situa igualmente no meio da linha que os junta (Fig. 5); o princípio e a resultante ocupam, portanto, assim, um e outra, uma posição central em relação aos dois complementares, e isso é particularmente para ser lembrado, em vista das considerações que seguirão.
Volvamos de nuevo a la representación del “Paraíso terrestre”: de su centro, es decir, del pie mismo del “Árbol de la Vida”, parten cuatro ríos que se dirigen hacia los cuatro puntos cardinales, y que trazan así la cruz horizontal sobre la superficie misma del mundo terrestre, es decir, en el plano que corresponde al dominio del estado humano. Estos cuatro ríos, que se pueden relacionar con el cuaternario de los elementos3, y que han salido de una fuente única que corresponde al éter primordial, dividen en cuatro partes, que se pueden relacionar con las cuatro fases de un desarrollo cíclico4, el recinto circular del “Paraíso terrestre”, el cual no es otra cosa que la sección horizontal de la forma esférica universal de la que ya hemos hablado más atrás5.
NOTAS:
A figura assim formada tem certas propriedades geométricas bastante notáveis, que assinalaremos de passagem: os dois triângulos equiláteros opostos pela base inscrevem-se em duas circunferências iguais, cada uma das quais passa pelo centro da outra; a corda que reúne seus pontos de intersecção é naturalmente a base comum dos dois triângulos e os dois arcos subtendidos por essa corda e limitando a parte comum aos dois círculos formam a figura denominada mandorla (amêndoa) ou vesica piscis, bem conhecida no simbolismo arquitetônico e sigilar da Idade Média. Na antiga Maçonaria operativa inglesa, o número total de graus dessas duas circunferências, ou seja 360 x 2 = 720, fornecia a resposta à questão relativa ao comprimento do cable-tow; não podemos traduzir esse termo especial, primeiro porque não tem equivalente exato em português e, depois, porque apresenta foneticamente um duplo sentido, que evoca (pela assimilação ao árabe qabeltu, o engajamento iniciático, de modo que ele exprime, poder-se-ia dizer, um “laço” em todos os sentidos dessa palavra. ↩
Pode-se considerar essa figura resultante da projeção de cada um dos triângulos precedentes num plano perpendicular ao seu e passando pela sua base. ↩
La Qabbalah hace corresponder a estos cuatro ríos las cuatro letras de las que está formada la palabra PaRDeS. ↩
Ver EL ESOTERISMO DE DANTE, cap. VIII, donde, a propósito de la figura del “viejo de Creta”, que representa las cuatro edades de la humanidad, hemos indicado la existencia de una relación analógica entre los cuatro ríos de los Infiernos y los cuatro ríos del Paraíso terrestre. ↩
Ver EL REY DEL MUNDO, cap. XI. ↩