quran-furqan (Burckhardt)

QURAN – FURQAN — RECITAÇÃO E DISCRIMINAÇÃO

São aqueles dois aspectos de toda palavra revelada, e aos quais se relacionam as duas designações do Corão como “Recitação” (al-quran) e como “Discriminação” (al-furqan). (IASP)


Em uma série de capítulos, o primeiro deles sobre o “Toque do Sino” e o último sobre “Sinai e o Livro Escrito em Linhas”, Jili considera as modalidades de revelação no sentido específico desse termo.

O “toque do sino” (çalçalat al-jaras) significa um som sutil que o Profeta ouviu no momento da revelação do Alcorão e que corresponde à repercussão do Poder Divino através dos múltiplos estados de existência.

O Alcorão menciona três nomes principais para o Livro revelado: “A Mãe do Livro” (umm al-kitâb), o nome dado ao protótipo eterno do Alcorão, “Recitação” (al-qur’ân), o nome dado ao Alcorão como revelação auditiva, e “Discriminação” (al-furqân), ou seja, o Alcorão como Lei sagrada. De acordo com Jîlî, a Mãe do Livro corresponde às profundezas insondáveis da Divindade, a fonte materna do universo; al-qur’ân corresponde analogamente ao estado de Unidade suprema, que “desceu” ao corpo do Profeta, e al-furqân simboliza todas as Qualidades divinas, ou seja, a distinção principal, que também “desceu” sobre Maomé.

Esses são os aspectos atemporais do Alcorão; no plano terreno, ele sucede os três outros grandes livros sagrados da linhagem abraâmica, a Torá, o Saltério e o Evangelho, em virtude de uma sequência cíclica que significa que cada revelação, necessariamente limitada em forma – não em essência – é compensada por outra. É assim que a Torá e o Evangelho manifestam uma certa polaridade, que Jîlî expressa da mesma forma que o adágio cristão: Christi doctrina revelat quod Moisi doctrina velat. O Alcorão aparecerá, portanto, como uma síntese das tendências judaica e cristã, ou como o restabelecimento de um equilíbrio que havia sido inevitavelmente rompido. (TBHU)