Ramana Maharshi Hixon

Lex Hixon — O Caminho da Iluminação Natural — Ramana Maharshi
Excertos de “O Retorno à Origem” de Lex Hixon

Ramana Maharshi, que viveu até 1951, já é considerado um dos sábios clássicos da Índia. Embora permanecesse num ambiente cultural simples sem jamais ter sido influenciado pela cultura europeia, Ramana vivia no cerne da consciência de onde irradiam as linguagens e imagens de todas as culturas. Seu ensinamento é singularmente acessível em virtude do caráter direto do seu caminho para a Iluminação, que não está vinculado à cultura indiana ou às formas particulares de qualquer cultura ou religião, jorrando, ao contrário, do Eu sou primordial, ou ser consciente, compartilhado naturalmente pelos membros de todas as culturas.

O pai de Ramana era advogado. Havia em sua casa uma certa atmosfera de devoção, que envolvia a adoração ritualística de vários deuses e deusas hindus, mas o jovem Ramana não recebeu nenhum treinamento religioso intenso. Ele frequentou a escola cristã local e se interessava mais pelos esportes do que pelos estudos, sendo considerado no estabelecimento um aluno comum e previsível. Possuía apenas uma única característica fora do comum: seu sono era tão pesado que nada conseguia despertá-lo. Seus amigos de infância costumavam carregá-lo de um lugar para outro, ou até mesmo socá-lo enquanto dormia. Ele acordava horas mais tarde, totalmente inconsciente do que havia ocorrido.

A vida de Ramana prosseguiu de um modo convencional até que, com a idade de dezesseis anos, ele leu a respeito da vida e das práticas dos santos do Sul da Índia. Em decorrência disso, ele vivenciou uma imediata, se bem que suave, euforia que durou vários dias. Não interpretou essa euforia como uma experiência espiritual, supondo simplesmente que tivera uma febre fraca. Este foi o primeiro estremecimento do seu despertar espiritual.

Vários meses depois, Ramana teve a repentina abertura para a Consciência Suprema na qual sua identidade individual quase se perdeu. Um amigo da família morrera, e o jovem Ramana resolveu vivenciar diretamente a experiência da morte. Seu motivo se originava mais da curiosidade do que de qualquer sentimento de consternação. Ramana tirou toda a roupa, deitou-se no chão do seu quarto e, com tremenda intensidade, imaginou que seu corpo estava morto. Fechou os olhos, simulando o estado de sono profundo. De repente revelou-se, reluzente, intemporal e completa, a consciência primordial que repousa na Origem do nosso ser, a Consciência Suprema que é a Origem do próprio Ser.

Esse fato demonstrou que não se tratava de transe isolado. O fluxo radiante dessa consciência primordial continuou a ser vivenciado no estado de vigília, de sonho e de sono sem sonhos de Ramana. Ele estava concentrado no centro espiritual de Ramana, mais tarde chamado de Coração, dois dedos para a direita do esterno. Ainda assim, o rapaz não percebeu que se tornara Iluminado. Ele não atribuiu nenhuma interpretação religiosa à sua experiência espontânea. Simplesmente observou o fluxo jubiloso de consciência primordial que continuava do lado direito do seu Coração durante o dia e durante a noite. Imagine que você está assustado. Procure isolar na imaginação a repentina sensação de formigamento que irrompe no seu sistema nervoso. Ramana descreveu a corrente de iluminação como uma sensação semelhante, porém contínua, e não momentânea, curativa e absorvente, e não dilacerante ou dispersiva.

Nos primeiros meses depois de sua Iluminação, Ramana visitou com frequência o templo de Shiva. Ele raramente fora lá quando criança, mas agora sentia-se atraído por vários templos porque, por mais institucionalizados que fossem, a consciência primordial se concentrava ali misteriosamente. Quando Ramana se postava diante da imagem de Shiva, às vezes pedia orientação: aonde deveria ir e o que deveria fazer, agora que percebia que o mundo era sem importância, perfeitamente transparente para essa Luz de consciência primordial? Em outras ocasiões, ele não sentia necessidade de orar e permanecia em silêncio diante da imagem, vivenciando a ilimitada expansão da Consciência Suprema que ele e Shiva igualmente expressavam. Essa atmosfera de unidade tornou-se aos poucos totalmente natural para ele.

Contudo, um determinado padrão de vida continuou atuante para Ramana, independentemente dessa condição de completa unidade ou iluminação. Seu destino era residir no Monte Arunachala. Ramana sentia em seu corpo uma ardente sensação que só foi mitigada quando ele deixou o lar e, sem saber por que, dirigiu-se a Arunachala, a montanha sagrada no Sul da Índia onde sábios e ascetas viveram e praticaram durante centenas de anos. Ramana mal tinha ouvido falar em Arunachala, e seu corpo ardeu até ele chegar a essa montanha do Coração, onde permaneceu, sem jamais se ausentar, por mais de cinquenta anos, até a ocorrência da sua morte física.

Quando o jovem Ramana chegou pela primeira vez a Arunachala, não sentiu nenhuma preocupação com a preservação do corpo. Ele costumava permanecer imóvel durante dias, sem comer ou dormir, totalmente absorto na corrente de consciência primordial da qual emergem todos os fenômenos e na qual eles novamente desaparecem como bolhas num riacho. Sua Iluminação ainda não havia começado a se dirigir diretamente para os seres viventes, uma vez que ele agora não percebia seres ou objetos distintos, mas simplesmente a ininterrupta expansão da Consciência Suprema. Um santo nômade encontrou Ramana sentado numa caverna na parte mais alta da montanha, mantendo-o vivo por meio da alimentação forçada.

O florescimento da compaixão e da consideração ocorreu espontaneamente. Vários praticantes espirituais, ou sadhus, que viviam na montanha, imaginaram que Ramana havia feito um voto de silêncio, porque jamais falava. Porém Ramana não havia feito voto algum. Ele simplesmente não pensava em falar, em comer, ou em se mexer, por estar extremamente absorto na percepção da perfeita unidade. O sadhu que compartilhava a caverna com Ramana estava tendo dificuldades com uma difícil passagem das escrituras. Ramana aproximou-se espontaneamente dele e explicou-lhe claramente o obscuro significado da passagem, a partir da sua experiência espiritual particular. Depois disso, vários sadhus e aldeões locais foram até Ramana, que conseguia resolver seus problemas, práticos ou filosóficos, com uma ou duas palavras, ou mesmo por meio do silêncio. Desse modo, um pequeno ashram ou comunidade espiritual formou-se naturalmente em torno de onde Ramana vivia, no alto da encosta da montanha. Essa crescente preocupação de Ramana em ajudar os outros no seu caminho para a experiência da unidade representa um importante aprofundamento da sua Iluminação original, na qual a estrutura do eu e do outro se dissolvera na Consciência pura. Agora, sem impedir a expansão da unidade perfeita, os seres individuais ressurgiram na percepção de Ramana. Esses indivíduos, embora naturalmente enraizados na consciência primordial, desconheciam sua Origem, estando, por conseguinte, necessitados da preocupação e da ajuda pessoal de Ramana.

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