Ratié (IRSA:I.1.4) – Não existe um Si permanente (sthira)…

A discussão encenada por Utpaladeva começa da seguinte forma:

(O Budista:) Certamente, há um (tipo de) cognição (jñāna) que tem como aparência (ābhāsa) uma (entidade) singular (svalakṣaṇa); quanto ao outro (tipo de cognição), chamado “conceito” (vikalpa), ele envolve linguagem (abhilāpa) (e) assume várias formas. Nenhuma dessas duas (cognições) pertence a um sujeito (draṣṭṛ) percebedor permanente (nitya), porque não há manifestação desse (sujeito) nessas (cognições).

Abhinavagupta explica :

(De acordo com esse oponente budista,) neste (mundo), com certeza, não é logicamente aceitável (afirmar) que há um Si permanente (sthira) que consiste em consciência, pois não há manifestação (prakāśana) de uma (entidade) autoluminosa permanente (svaprakāśa). De fato, apenas as cognições se manifestam, em formas como manifestação (prakāśa) de um pote, conceito (vikalpa) de pote, reconhecimento (pratyabhijñā) de pote, lembrança (smṛti) de pote, imaginação (utprekṣā) de pote, etc.; e (essas cognições se manifestam) enquanto têm diferentes tempos, diferentes objetos e diferentes formas.

Não existe um Si permanente (sthira) que seria constituído por uma única consciência capaz de manifestar coisas. É verdade que toda cognição é caracterizada por uma forma de autoconsciência (svasaṃvedana), mas essa autoconsciência não é a consciência do Si: o budista aqui apresentado se recusa a hipostasiar a autoconsciência que caracteriza todo evento consciente em uma entidade subjetiva permanente que seria o agente da cognição (jñātṛ, pramātṛ) e existiria independentemente das cognições instantâneas (jñāna).

Por que, no entanto, ele se recusa a admitir a existência de tal entidade permanente que transcenderia a existência instantânea das cognições — por que ele não admite que o “eu” (sva-) que experimentamos na autoconsciência (svasaṃvedana) pode ser mais do que a cognição instantânea?